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Para vencer as eleições em 2026, Bolsonaro precisa aprimorar a comunicação

USA - EUA/BOLSONARO/CPAC/ELEIÇÕES 2026 - POLÍTICA - O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), participa da Conservative Political Action Conference (CPAC 2023), maior evento de conservadores do mundo, no National Harbor, em Washington DC, neste sábado, 04 de março de 2023. Bolsonaro sinalizou que vai concorrer às próximas eleições no Brasil, em 2026, durante o CPAC 2023. Durante o seu discurso, criticou a esquerda e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também chamou a também ex- presidente Dilma Rousseff de "comunista". Bolsonaro falou por cerca de 25 minutos, exaltou os Estados Unidos, os americanos, citou a sua relação com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas não mencionou o escândalo das joias ilegais, revelado pelo Estadão

Dez de cada dez pessoas atribuem o fracasso de Bolsonaro nas urnas, entre outros motivos, à sua inabilidade para se comunicar. Será mesmo que o ex-presidente é assim tão ruinzinho de oratória? Não vamos nos esquecer de que, embora não tenha vencido as eleições, ele bateu na trave. A diferença com a votação de Lula foi quase no fotochart. Uma levantada de cabeça na chegada poderia ter sido suficiente para se reeleger. Então ele é bom de oratória? Sim e não. Sim, porque conquistou quase 60 milhões de votos. Não, porque perdeu as eleições. E comunicação boa é aquela que dá resultado. Por isso, independentemente da competência de Bolsonaro para se expressar em público hoje, para ter excelência ele precisa melhorar. Se ele fizesse o curso de oratória, as recomendações que receberia seriam fáceis de aplicar, mas, para isso, deveria se entregar ao treinamento com disciplina e boa vontade. Essa é a premissa essencial para alguém aprender a falar em público com segurança e eficiência: estar consciente de que tem necessidade de melhorar e ter vontade de aprender. Se a resposta a um desses fatores for negativa, dificilmente o resultado aparecerá.

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Vamos imaginar que o ex-presidente, disposto a vencer as eleições em 2026, resolva se submeter às aulas para se aprimorar na arte de falar em público. Os conselhos iniciais seriam a respeito das características que deveriam ser mantidas na sua comunicação. Jamais poderia perder a naturalidade. O político precisa ter credibilidade para conquistar os votos dos eleitores. Se as pessoas não acreditarem em suas palavras, não o escolherão como representante. E a naturalidade é o primeiro requisito para ser acreditado. Seria até preferível que continuasse com todos os defeitos de comunicação, mas se apresentando de maneira espontânea, a acertar nas técnicas com artificialismo. Essa é uma das boas qualidades de Bolsonaro: ele se exprime com naturalidade.

Outro aspecto a ser mantido é a emoção com que se apresenta. Em todas as circunstâncias, fala com envolvimento e disposição. Demonstra na maneira de se expressar a importância dos temas do seu discurso. Mais um requisito aprimorado ao longo do tempo em que esteve na presidência foi a demonstração de conhecimento dos assuntos que aborda. No início, era comum se desculpar por não dominar determinados temas. Vira e mexe, terceirizava as explicações ao seu Posto Ipiranga, Paulo Guedes. Com a experiência adquirida como chefe do Executivo, passou a se inteirar de praticamente todas as matérias e tratá-las com autoridade. Os pontos a serem aprimorados seriam: conteúdo, retórica, expressão corporal e estilo. Parece muito, mas com apenas alguns retoques haveria uma verdadeira transformação na sua oratória. Em pouco tempo seria outro na tribuna.

Conteúdo. Bolsonaro repete os mesmos temas à exaustão. Se pegarmos os discursos que proferiu no último ano, vamos constatar que os tópicos não mudam. Começa agradecendo a Deus pela segunda vida. Fala do milagre por ter chegado à Presidência. Enfatiza a importância da pátria, família, Deus e liberdade. Não que esses tópicos não possam ser abordados, mas precisa haver diversificação para não parecer repetitivo e vazio. A retórica também entra aqui. Depois de escolher os novos temas para discursar, deve ordená-los de forma lógica e concatenada. Expressão corporal. O hábito de se apoiar com frequência ora sobre uma perna, ora sobre a outra quando está parado pode passar a ideia de insegurança, fragilidade e despreparo. Ficar por tempo prolongado com a mão no bolso também pode ser prejudicial. Ao usar o teleprompter, embora tenha evoluído bastante, falta muito ainda para demonstrar domínio na leitura. Os olhos continuam vidrados e as frases entrecortadas em momentos inadequados. Estilo. Talvez seja o aspecto da sua comunicação mais difícil de ser corrigido, pois tem muito a ver com sua vaidade. Bolsonaro julga que demonstra inteligência e descontração ao fazer brincadeiras com frequência. Em vários momentos, ele ultrapassa a linha do bom senso e cai na vulgaridade. Especialmente quando seu humor tem conotações sexuais. 

A comunicação pode ser leve, descontraída, bem-humorada, mas nunca deve resvalar na deselegância. Como já percebeu que pondo o dedo na tomada leva choque, talvez aceite essas sugestões. Com esses acertos tão simples, Bolsonaro poderia galgar estágios mais elevados com a sua comunicação e ter ao seu lado uma parcela do eleitorado que hoje torce o nariz para os seus discursos. Siga pelo Instagram: @polito.

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