Quando especialistas dizem que um candidato vai vencer as eleições, pode apostar no outro

Para 2022, bolsonaristas alegam que o seu candidato está sempre nos braços do povo, e petistas batem o pé de que acusações não tiraram força de Lula; quase ninguém fala de um terceiro candidato

  • Por Reinaldo Polito
  • 13/05/2021 08h00
EFE Pessoa votando de máscara em uma urna eleitoral Eleições estão chegando e os analistas começam a fazer seus prognósticos

Quem entende de política no Brasil? As eleições estão chegando e os analistas começam a fazer seus prognósticos. A julgar pelo o que a maioria dos “entendidos” disse no último pleito presidencial, essa turma vai quebrar a cara de novo. Aquela história surrada de que política é como as nuvens, que mudam de posição de um instante para outro, é verdadeira. Vamos recordar alguns equívocos cometidos nos últimos anos pelos institutos de pesquisa e comentaristas políticos. Comecemos pelas eleições municipais de São Paulo, em 1985, quando, depois de 20 anos, a população paulistana voltava a ter o direito de eleger o seu prefeito. Concorriam Jânio Quadros, pelo PTB, e Fernando Henrique Cardoso, pelo PMDB. Até a véspera da apuração, segundo a opinião da maioria dos analistas, o peemedebista estava com a taça na mão. E perdeu. Tanto que protagonizou um dos episódios mais constrangedores da história da política brasileira. Concordou em tirar uma foto sentado na cadeira do prefeito, que imaginava ser sua, para publicarem na capa da Revista Veja. Jânio não perdoou a petulância do adversário, e no dia da sua posse desinfetou a cadeira com uma bomba de inseticida, dizendo: “Nádegas indevidas a usaram”.

Mais um equívoco impressionante daqueles que analisam a política ocorreu poucos anos depois, em 1988, em outra eleição à prefeitura de São Paulo. Os candidatos eram Paulo Maluf, pelo PSD, e Luíza Erundina, pelo PT. Era uma barbada. Para os comentaristas, Maluf já estava eleito. Na abertura das urnas, a grande surpresa, Erundina venceu. Em 2005, os opositores de Lula cometeram um grande erro de avaliação. A imagem do então presidente estava desgastada por causa do mensalão. Bastava forçar um pouco para destruí-lo definitivamente. Como a situação era confortável, disseram que o ideal era deixá-lo sangrar sozinho até desaparecer. Esqueceram de bater na cabeça da jararaca. Enganaram-se, pois Lula não apenas não sangrou como ainda readquiriu forças para se reeleger e colocar no cargo também a sua sucessora.

Nas últimas eleições, então, quase todos os analistas políticos só bateram cabeça. Foram grandes palpiteiros. Corre um vídeo pela internet mostrando depoimentos dos mais influentes comentaristas políticos afirmando de maneira contundente que Jair Bolsonaro jamais venceria as eleições. Essas opiniões foram respaldadas nos mais variados argumentos, como, por exemplo, ausência de capilaridade política, tempo exíguo de televisão, ineficiência nas redes sociais, falta de recursos financeiros, inexperiência, e até o fato de o candidato ser uma piada. Praticamente ninguém apostava na vitória daquele deputado do baixo-clero. Afinal, o Capitão não conseguia discutir com profundidade questões relacionadas à economia, fugia dos debates e se perdia na história do politicamente correto. Um desastre! Abertas as urnas, e mais uma vez a prova de que esse pessoal que se diz conhecedor das questões políticas estava errado.

Já dá para ouvir vozes cada vez mais altas sobre o que ocorrerá em 2022. Uns dizem que Bolsonaro não tem nenhuma chance, e, por incrível que pareça, lançando mão dos mesmos argumentos que utilizaram para errar nas eleições passadas. Outros, ao contrário, jogam todas as fichas na derrota de Lula. Os bolsonaristas alegam que o seu candidato está sempre nos braços do povo. Os petistas batem o pé dizendo que o tempo de reclusão e as acusações feitas contra o seu líder não tiraram dele a capacidade de arregimentar o povo que não se esquece do que ele fez pelo país. Quase ninguém fala de um terceiro candidato. Temos de considerar também que alguns dão opinião se desviando da realidade que enxergam, pois tentam assim com projeções sinuosas induzir e até manipular os eleitores. Vale a pena lembrar, entretanto, o que afirma o sociólogo francês Jean Baudrillard: a massa tem poder de resistência. As pessoas hoje não estão vinculadas ao conteúdo; elas resistem ao conteúdo. Como a história provou de forma recorrente que ninguém entende nada sobre eleições, e quem se arrisca a dar opiniões sobre a vitória deste ou daquele candidato passa vergonha, só nos resta esperar os próximos meses para ver o que vai acontecer. Temos uma certeza, a de que as nuvens ainda vão mudar muito de posição até a chegada das eleições. Siga no instagram @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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