Quem é o melhor orador do Brasil hoje?

País sempre foi um celeiro de ótimos oradores, mais no passado do que no presente; havia aqueles fora de série, capazes de mudar opiniões com um único discurso

  • Por Reinaldo Polito
  • 17/10/2024 10h52
  • BlueSky
rawpixel.com/Freepik Empresário corporativo fazendo uma apresentação para um grande público Além dos aspectos estéticos, a oratória deve ser avaliada pelos resultados

A pergunta é recorrente: “Professor, quem é o melhor orador do Brasil?”. A resposta raramente agrada, pois sempre haverá quem se mostre contrariado. E não por discordar do nome, mas sim por razões ideológicas. Portanto, este texto pode agradar a uns e desagradar a outros. O Brasil sempre foi um celeiro de ótimos oradores. Mais no passado do que no presente. Havia aqueles fora de série, capazes de mudar opiniões com um único discurso, encantar plateias e motivar pessoas a chegarem mais cedo em casa só para ouvi-los.

Alguns craques no microfone 

Para citar alguns: Carlos Lacerda, Leonel Brizola, Jânio Quadros. Todos políticos. Mas não havia bons oradores fora da política? Havia, sim, mas poucos eram conhecidos. Advogados que brilhavam no Tribunal do Júri e pregadores que desfilavam sua eloquência nos púlpitos. Mais recentemente, um político que se destacou pela sua competência oratória foi Roberto Jefferson, hoje afastado por problemas com a Justiça. Ele foi um dos poucos que enfrentaram o todo-poderoso José Dirceu. Sua presença na tribuna era imponente. Falava com voz firme e mantinha um contato visual que intimidava seus adversários. Às vezes, suas pausas eram mais eloquentes que suas palavras.

Não basta só falar bem 

Além dos aspectos estéticos, a oratória deve ser avaliada pelos resultados. Há oradores que, analisados pela técnica, talvez não fossem aprovados. No entanto, o impacto de seus discursos é avassalador. Os mais proeminentes são Lula e Bolsonaro, verdadeiros craques no microfone. Para quem discorda dessa análise, proponho um teste: suba em um palanque e conquiste como eles 60 milhões de votos com seus pronunciamentos. Repito, eles podem não ser considerados tecnicamente impecáveis, mas são muito competentes em atingir seus objetivos.

O melhor nos dias atuais

Atualmente, um orador que atende a todos os requisitos de quem fala em público é Ciro Gomes. Ele sabe como se posicionar. Seus gestos são harmoniosos, destacando as informações relevantes e complementando a mensagem. Foi privilegiado pela natureza com uma voz invejável — sonora, bem timbrada e potente. Ciro jamais trunca as frases com pausas inadequadas, só fica em silêncio quando conclui o pensamento. E sem pressa para retomar a palavra, permite que os ouvintes reflitam sobre o que acabou de dizer. Sem contar que nesses momentos de silêncio não desvia os olhos da plateia. É como se nesses instantes, ficando quieto e mantendo o contato visual, estivesse repetindo sem palavras as informações transmitidas.

Muito bem preparado

Sua cultura e preparo são notáveis. Ele discute qualquer tema com profundidade, seja economia, direito, política ou educação, sempre com desenvoltura e competência. Esses atributos são reforçados por uma eloquência rara. Seus adversários encontram dificuldades em enfrentá-lo nos debates, pois ele nunca se intimida e sempre encontra argumentos para todos os confrontos. Apesar de toda essa competência para se expressar em público, não tem se saído muito bem nas disputas eleitorais. Nas últimas eleições à Presidência, ficou em quarto lugar, com apenas 3,4% dos votos. Um resultado fraco para um político com a sua experiência. Em 2018, foi o terceiro colocado, com 9,5%.

O que falta?

A pergunta é: se ele é tão bom orador, por que seus resultados nas urnas são irrelevantes? Como vimos, além dos aspectos estéticos, o que realmente importa na comunicação são os resultados. Ciro é temperamental. Em certos momentos, perde o equilíbrio e se descontrola. Esse comportamento irascível tem afastado parte do eleitorado.

Nos últimos tempos, tem tentado corrigir suas ações, mas sem resultados. Suas atitudes comedidas não parecem naturais e, por isso, não convencem. E, de repente, deixa de lado essa fantasia e volta a se comportar de maneira mais agressiva. Talvez esse tenha sido o motivo de seus insucessos. Há também a questão ideológica, que parece não ir ao encontro das aspirações da maioria do eleitorado. Como a política muda a cada instante, pode ser que a qualquer momento ele conquiste a preferência dos eleitores. Oratória para isso ele tem, e de sobra. Siga pelo Instagram:@polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.