Reta final da campanha promete uma verdadeira guerra verbal entre Bolsonaro e Lula

Os dois principais candidatos carregam consigo popularidade poucas vezes vista em concorrentes ao cargo de presidente da República

  • Por Reinaldo Polito
  • 15/09/2022 09h00
Suamy Beydoun/Agif/Estadão Conteúdo - 30/08/2022 Com Simone Tebet no meio, Lula e Bolsonaro se olham durante debate no estúdio da Band Lula e Jair Bolsonaro se olham durante o primeiro e até agora único debate presidencial das eleições deste ano

Bolsonaro iniciou sua campanha para reeleição desde o dia em que vestiu a faixa presidencial. Ele tinha consciência de que tudo o que fizesse, ou deixasse de fazer, seria levado em conta no momento em que os eleitores se dirigissem às urnas no dia 2 de outubro. Dentro das quatro linhas da Constituição, como sempre costuma dizer, seguiu a cartilha da “ex-presidenta” Dilma e fez o diabo. Nem bem havia se instalado no Palácio do Planalto e já teve de enfrentar uma das maiores tragédias da nossa história, em 25 de janeiro de 2019: o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Foram momentos desesperadores. O saldo daquele desastre chegou a 250 mortos e 20 desaparecidos. Não era difícil imaginar que, se não tomasse providências certeiras e imediatas, a oposição não vacilaria em pôr a culpa no seu colo. Sem contar as evidentes consequências negativas para a economia brasileira, já que a Vale representa considerável parcela da nossa produção. 

Esse episódio parecia ser mesmo apenas o prenúncio do que o novo presidente iria encontrar nos seus quatro anos de gestão. Nesse curto período, além do mais impactante de todos os desafios que foi a pandemia, teve de superar também a maior crise hídrica do último século. E, para coroar, uma guerra do outro lado do mundo, que teve consequências em praticamente todos os países. Diante desse quadro de horrores, Bolsonaro conseguiu reduzir o desemprego para patamares na casa dos 9%, reduziu o preço dos combustíveis, controlou a inflação, aumentou o PIB. Enfim, fez a economia andar. E muito bem. De forma surpreendente, trimestre a trimestre, as expectativas para os nossos indicadores têm sido corrigidas sempre para cima.

Esse resultado positivo está ocorrendo exatamente às portas das eleições, quando Bolsonaro mais precisa de números otimistas para turbinar sua campanha. Tanto assim que os adversários pouco falam da economia do país, preferem atacar as questões comportamentais do presidente. Do outro lado, está o seu mais ferrenho adversário, Lula. O ex-presidente também sempre esteve em campanha. Mesmo no período em que ficou preso nas dependências da Polícia Federal em Curitiba, articulou o tempo todo. Indicou Fernando Haddad para ser o candidato pelo PT em 2018, um político pouco conhecido no país, mas que obteve votação excepcional. Ao deixar a prisão, imediatamente se lançou como candidato de oposição a Bolsonaro. Desde o início vem surfando em  resultados invejáveis nas intenções de votos apurados pelos institutos de pesquisa. 

Enquanto esteve na presidência, conquistou índices de aprovação popular inéditos. Em certo momento superou a casa dos 80%. Lula teria bons resultados a apresentar de seu primeiro governo. Por causa das constantes acusações que recebe devido à corrupção, todavia, é obrigado a consumir boa parte de seus discursos e entrevistas tentando se defender. Sua estratégia eleitoral, também, não está muito clara. Tem evitado se encontrar no corpo a corpo com o eleitorado e limitado o número de discursos. Alguns analistas políticos dizem ser quase incompreensível que um candidato prestes a levar os eleitores a votar em seu nome se recuse a fazer campanha mais ostensiva. Alegou questões de segurança, e há ainda um problema físico, já que sua voz está bastante comprometida. 

São dois “monstros” que carregam consigo popularidade poucas vezes vista em dois concorrentes ao cargo de presidente da República. Nesses poucos dias que antecedem a data das eleições, tanto Bolsonaro quanto Lula deverão arregaçar as mangas e, se as últimas pesquisas estiverem certas, já que apontam empate técnico, seduzir os eleitores indecisos, ou convencer aqueles dispostos a votar em outros candidatos de que o voto útil nesse momento é a melhor decisão. Nesse instante, mais que acertar nos discursos, eles não poderão errar. Uma frase mal elaborada poderá ser fatal para as suas intenções.

Bolsonaro tem falado mais. E nos últimos pronunciamentos deixou um pouco de lado os arroubos beligerantes que sempre o caracterizaram. Parece que tomou o cuidado de, mesmo falando bastante, não correr o risco de pôr tudo a perder. Lula, por sua vez, continua com seus discursos contundentes e irônicos, que a vida toda garantiram a ele vitórias na maioria das campanhas de que participou. É um político matreiro, experiente e muito perspicaz. Serão poucos dias de uma verdadeira guerra verbal. Provavelmente ambos irão para o segundo turno. Nessa fase, será uma nova eleição. Quem tiver mais argumentos, consistência de programa, fôlego, energia e disposição poderá levar vantagem na competição. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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