Se Chávez e Maduro tivessem aproveitado empresas como a Toddy, a história da Venezuela seria outra
País já viveu de amores com os Estados Unidos e teve relacionamento de alto nível com o Brasil; em 1970, houve até a instalação de uma agência do Banco do Brasil em Caracas
E aí, Maduro, já tomou o seu Toddy hoje? Pois é, rapaz, se desde a época de Chávez vocês tivessem essa brilhante ideia, sabia que a situação da Venezuela poderia ser muito diferente do que é hoje? Vou explicar. A Venezuela já deitou e rolou. Viveu de amores com os Estados Unidos. Verdade. Houve um período em que esses dois países eram carne e unha. E cá entre nós, por mais que você torça o nariz para os “imperialistas”, ser brother dessa turma é melhor que os ter como desafetos. O petróleo estava com os preços na estratosfera e jorrava por todos os cantos do país. O que não faltava para los hermanos era grana. A situação era tão favorável que eles nem se preocuparam em usar o dinheiro que ganhavam para construir um parque industrial que pudesse segurar as pontas na eventualidade de uma crise. Compravam do exterior tudo o que precisavam, desde produtos de higiene, passando por remédios e alimentação. Era mais ou menos assim: manda os produtos que garantimos o pagamento.
Além dessa dependência a um único produto, conviviam também com outro fantasma que tirava o sossego de seus habitantes. Caracas era cercada por uma população clandestina que atravessava as fronteiras e chegava ao país sem grandes esforços. Diziam que os mais abastados possuíam seus jatinhos com o bico virado para Miami. Estavam prontos para levantar acampamento e fugir caso essas pessoas resolvessem invadir a cidade. Era um verdadeiro barril de pólvora. Não deu outra. O preço do petróleo despencou, o país teve péssima gestão, os ditadores Chávez e Maduro se eternizaram no poder, começaram a bater papo com passarinhos e arrebentaram com aquele paraíso. A situação que vem se deteriorando ano a ano, agora saiu totalmente de controle. A população venezuelana passa por momentos desesperadores. As pessoas não sabem como agir para sobreviver, pois estão sem trabalho, sem remédios, sem produtos de higiene e sem alimentos. Como última saída para a crise, muitos estão abandonando o país. Mais de 60% dos pedidos de refugiados no Brasil são de venezuelanos. Preferem enfrentar o desafio do desconhecido a permanecer em sua terra natal, onde não veem mais esperanças de dias melhores.
O Brasil chegou a manter relacionamento de alto nível com os venezuelanos. Presenciei de perto esses momentos. De 1980 a 1985 fui diretor cultural e de comunicações da Câmara de Comércio e Indústria Brasil/Venezuela. Eu tinha várias atribuições: manter contatos com empresas brasileiras e venezuelanas para viabilizar o comércio entre as duas nações, além de organizar os eventos culturais e editar uma revista com notícias associadas aos dois países. O problema era encontrar empresas venezuelanas no Brasil. Nas nossas reuniões de diretoria eu dizia que só poderia visitar empresas brasileiras que tivessem interesse em exportar para a Venezuela, pois não havia companhias venezuelanas no nosso país. Nunca falhava. Era só eu fazer esse comentário que um dos diretores dizia: e a Toddy? Diziam só para fazer graça, pois essa era a única organização venezuelana de bom porte por aqui.
A história é curiosa. A Toddy foi fundada em Porto Rico em 1930. Três anos depois, em 1933, foi autorizada pelo governo Getúlio Vargas a comercializar o produto em nosso país. Pouco tempo mais tarde, na década de 1940, passou a ser fabricado na Venezuela pela empresa Trading. Com o transcorrer dos anos ela foi trocando de dono até ser adquirida em 2001 pela Pepsico. Nada é muito claro. Se, por exemplo, você fizer uma pesquisa no site de quem fabrica o produto, não vai encontrar nenhuma notícia de que a empresa foi venezuelana. Se, entretanto, escarafunchar um pouco mais nos sites de busca em língua espanhola, vai constatar que empresas como a Mavesa da Venezuela comandaram a Toddy por 40 anos. Há mais um fato interessante nessa ligação do Brasil com a Venezuela. Em 1970, o chefe do executivo venezuelano Carlos Andrés Perez permitiu que instalássemos uma agência do Banco do Brasil em Caracas. Aproveitando o bom relacionamento, ele disse ao então presidente Ernesto Geisel que gostaria muito de ter um banco venezuelano no Brasil.
Fizeram o acordo e veio para cá o Banco Union. Inicialmente se instalaram em um prédio alugado na Rua Álvares Penteado, no centro velho de São Paulo, para depois construírem instalações próprias na esquina da Av. Paulista com a Peixoto Gomide. Mantiveram operações por aqui até o princípio de 2005, quando encerraram as atividades. O Banco do Brasil também fechou as portas naquele país. Que pena! Tanta riqueza, tanto potencial de desenvolvimento e perderam a chance de construir uma indústria de base que pudesse sustentar e manter o crescimento do país. Se Chávez e Maduro tivessem aproveitado empresas da estatura da Toddy, que rondou por lá durante tantas décadas, a história do país agora seria contada de forma diferente. Siga no Instagram: @polito.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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