‘Dizem por aí que sou tão brava quanto meu pai’, afirma a jornalista Letícia Datena

À coluna, a filha de um dos maiores comunicadores fala sobre o preconceito na carreira, a responsabilidade do sobrenome e o machismo imposto no esporte: ‘Mulheres podem ocupar o lugar que quiserem’

  • Por Renata Rode
  • 11/01/2023 18h27
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Reprodução/Instagram/@leticiadatena Letícia Datena agachada no deserto onde é disputado o rali Dakar Letícia Datena é jornalista especializada em esportes e está cobrindo o Rally Dakar deste ano

Atualmente, cobrindo o Rally Dakar 2023, a jornalista Letícia Datena comemora mais um feito direto da Arábia Saudita. “Graças a Deus as mulheres estão percebendo que elas podem ocupar o lugar que quiserem. Eu, por exemplo, estou falando com você direto do deserto, em meio a um dos maiores eventos esportivos mundiais, sem nenhum problema de ser uma das únicas mulheres que está aqui – e posso dizer que estou recebendo bastante apoio. O preconceito existe, mas sempre ocorreu de forma mais tímida em relação a mim e não me impede de fazer o meu trabalho”, ressalta a apresentadora oficial da Stock Car e apresentadora no BandSports. Ela atendeu a coluna em uma entrevista exclusiva, direto do deserto, para falar sobre o preconceito na carreira, a responsabilidade do sobrenome que carrega e o machismo imposto no esporte. Aos 35 anos, a jornalista e apresentadora se especializou em jornalismo esportivo, mais precisamente, o automobilismo, um cenário quase que totalmente masculino. “Posso dizer que o machismo já aconteceu sim, em algumas transmissões importantes no começo, com apresentadores que não te dão a palavra, mas aprendi em anos de carreira que é preciso entender a insegurança do outro. Hoje, sou muito respeitada na Stock Car e no meu ambiente. E, se existe algum comentário maldoso, não é feito na minha frente, não chega aos meus ouvidos. Então, está tudo certo, cada um com seu recalque, contanto que não me atinja”, brinca, falando a verdade, claro.

Nascida em uma família de comunicadores, viajada e tendo na bagagem experiências no mundo da moda e do entretenimento, Letícia escolheu o esporte e relata que o cenário da cobertura dos eventos vem mudando no mundo inteiro. “Eu achei sensacional ter uma comentarista mulher na última Copa do Mundo. Mulheres estão aí com muita qualidade de trabalho sem deixar nada a desejar para os homens, talvez com menos tradição em alguns esportes, porque esse espaço não existia no passado. Mas essa mudança existe para nos focar nas pessoas, nos profissionais que somos, que podemos ser melhores sempre e na evolução.” Quando questionada sobre a responsabilidade de carregar um sobrenome de peso na televisão, Letícia é enfática: “Não tem responsabilidade absolutamente nenhuma, para ser bem sincera. Eu sempre separei a pessoa Letícia Datena da pessoa José Luiz Datena. Faço um trabalho completamente diferente do dele. Tenho orgulho do que meu pai faz, mas somos pessoas diferentes, com estilos diferentes. É um caminho independente e não me sinto mais cobrada por ser filha do Datena. Muito pelo contrário, eu tenho muito orgulho de ser filha dele. E sei que ele tem muito orgulho de ser meu pai”.

Depois dessa declaração de amor, eu quis saber o que o apresentador acha do trabalho da filha desbravadora. “Olha, meu pai sempre falou que ficava nervoso de ver os filhos dele na televisão, mas isso foi no começo. Até dizem por aí que sou tão brava quanto meu pai. É claro que ele faz críticas construtivas quando vê algo – e eu acho maravilhoso. Inclusive, ele me ajudou muito a achar meu estilo próprio. Óbvio que ele ficou apreensivo quando eu escolhi ser jornalista, mas, agora, pelo jeito, é só alegria. Ele fica um pouco preocupado, quando eu faço essas viagens para o meio do deserto e tal, mas também já se acostumou e curte para caramba. E admira a minha coragem de fazer esse tipo de trabalho, que não é fácil”.

Em meio aos deslocamentos de 600 quilômetros por dia no deserto, com limitações, afinal, ela está cobrindo o Rally Dakar, perguntei a Letícia se tem algo que ela ainda sonhe em conquistar na profissão. “Eu achava que eu não iria voltar para um Rally Dakar, e aqui estou. Então, eu acho que tem bastante coisa para ser conquistada ainda, mas estou feliz indo para minha terceira temporada na Stock Car, que é a maior categoria do automobilismo brasileiro, E tendo essas oportunidades ainda de cobrir eventos internacionais. Quem sabe um próximo passo no futuro não seja voltar ao ambiente da televisão, atingindo mais pessoas?”. Será que filho de peixe, sereia é? Vamos ter que aguardar para afirmar isso.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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