Estelionato amoroso existe e as principais vítimas são as mulheres

Advogado especialista enumera cinco mitos e verdades sobre a prática

  • Por Renata Rode
  • 27/04/2024 08h00
vecstock no Freepik - Imagem gerada por IA Mulher jovem triste enviando mensagens de texto sentindo solidão e depressão geradas pela IA Golpista busca convencer a pessoa de que é o companheiro ideal, podendo, inclusive, assumir uma falsa identidade

Os números indicam o alerta: a cada dez mulheres que utilizam aplicativos de relacionamento, pelo menos quatro já foram vítimas do chamado “golpe do amor”. Sim, o estelionato amoroso existe e os dados da empresa Hibou Pesquisas e Insights mostram que 42% delas já foram vítimas de fraude. A pesquisa foi realizada com 2.000 mulheres em todo o país, sendo que a maioria das entrevistadas revelou que já recebeu algum pedido de dinheiro emprestado dos pretendentes. Esta colunista que vos escreve é também autora do livro “Todo Mundo Erra”, da Editora Leader, e defende que a carência é um dos principais inimigos da mulher (e do homem também, é claro). A busca pelo par ideal nos cega e passamos a transformar sapos em príncipes, num passar de mágica. 

Como meio de prestação de serviço, resolvi fazer uma entrevista exclusiva com Marcos Bernardini, doutor em direito, mestre pela Universidade Anhembi Morumbi e especialista em processo civil, para entender no que consiste essa “nova” modalidade de crime, que é mais antiga que minha bisavó (convenhamos, né?). O também professor explica, em primeiro lugar, o que caracteriza o estelionato amoroso. “O estelionato amoroso ocorre nas situações em que o golpista se aproveita da confiança de um relacionamento para obter vantagens econômicas ou patrimoniais. Se caracteriza pela utilização de mentiras, falsas promessas e manipulação emocional para enganar a vítima. Normalmente, o golpista finge estar apaixonado e leva a vítima a entregar a ele a administração de seus bens, pede dinheiro para resolver falsas emergências, apresenta falsas oportunidades de negócios vantajosos para a vítima, entre outras situações enganosas”, detalha.

Em todos os casos, o golpista busca convencer a pessoa de que é o companheiro ideal, podendo, inclusive, assumir uma falsa identidade para se passar por um profissional bem-sucedido ou uma pessoa importante, considerada “um bom partido”. Diante do aumento de casos e até de uma exposição pública de famosos que denunciaram abusos após o rompimento dos relacionamentos, perguntamos ao especialista quais são os sinais de alerta em uma relação para que tenhamos pelo menos a chance de nos prevenir. “Na maioria dos casos, os golpistas tentam acelerar o ritmo do relacionamento, com pedido de namoro ou mesmo casamento; costumam evitar encontros pessoais e, normalmente, a primeira abordagem é virtual; mostram comportamento inconsistente, isolamento social e se apresentam muito controladores; evitam falar sobre detalhes significativos da vida real, como amigos, família ou trabalho e, em todos os casos, pedem dinheiro ou alguma vantagem financeira”.

De acordo com o advogado, a melhor forma de prevenção é estar atenta aos sinais de alerta e adotar algumas medidas como cautela ao se relacionar com pessoas que conheceu em ambiente virtual. “Oriento sempre a verificar a identidade da pessoa; realizar pesquisa nas redes sociais e buscar informações sobre a pessoa. Pelo menos no início, prefira encontros pessoais e em locais públicos; compartilhe com amigos e familiares; estabeleça limites; realize videochamadas; desconfie de pessoas que evitam dar informações pessoais e detalhes sobre sua vida. Com certeza, essas medidas podem ajudar e prevenir o estelionato amoroso”.

Marcos Bernardini

Marcos Bernardini é doutor em direito, mestre pela Universidade Anhembi Morumbi e especialista em processo civil (Divulgação)

Nos últimos anos, só em São Paulo, houve um aumento de mais de 500% (quinhentos por cento) no número de casos, sendo que estelionato é um crime previsto no art. 171 do Código Penal Brasileiro. “As autoridades investigam as queixas, e, se houver evidências suficientes, o réu pode enfrentar penalidades que incluem multas, reparação dos danos à vítima e até prisão. Dependendo da gravidade, pode-se considerar a situação como violência patrimonial contra a mulher, que está prevista na Lei Maria da Penha e, por isso, é possível requerer medidas protetivas de urgência de natureza patrimonial. Em relação aos prejuízos financeiros, as vítimas podem considerar entrar com ações civis para buscar reparação financeira. Sendo assim, se mesmo tomando as cautelas necessárias, você se ver envolvida nesta situação, é importante obter todas as possíveis provas, como mensagens, ligações telefônicas, recibos, procurações e transações bancárias. Essas informações são importantes para demonstrar que a relação afetiva existiu e que houve abuso de confiança por parte do golpista”, explica Bernardini.

Muito embora qualquer pessoa possa ser vítima do estelionato amoroso, as mulheres são percebidas como mais propensas a buscar relacionamentos emocionais e, portanto, podem ser alvo de indivíduos que buscam explorar essa vulnerabilidade para obter vantagens financeiras. “As mulheres costumam ser mais receptivas a expressões de afeto e preocupação, o que pode torná-las mais suscetíveis a serem manipuladas por golpistas. Por isso, na grande maioria dos casos, as vítimas são mulheres”, sinaliza. Por fim, o advogado elenca cinco dicas práticas para oferecer segurança em um relacionamento: 

  • Tenha e exija uma comunicação aberta e honesta
  • Não permita desrespeito ou qualquer tipo de abuso
  • Estabeleça limites na relação
  • Construa a confiança gradualmente
  • Planeje o relacionamento de forma conjunta, mas respeite a individualidade

E ainda vale aquele ditado antigo: “Quando a esmola é demais, todo santo desconfia”. Ou seja, siga sua intuição e confie desconfiando, busque evidências, teste a pessoa que está conhecendo e, ao menor sinal de problema, afaste-se para analisar a situação de fora, com mente mais calma. Se achar que o caso está confuso, peça ajuda a amigos e busque orientação profissional. Seu bolso, sua saúde mental e integridade, agradecem.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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