‘Quanto mais falarmos de abuso e violência doméstica, mais estaremos fazendo um serviço para a sociedade’, diz Regiane Alves
Em entrevista exclusiva a esta coluna, atriz fala sobre repercussão envolvendo personagem polêmica em novela das sete
Podemos dizer que quase toda personagem encenada por Regiane Alves causa confusão? Calma! No ar em “Vai na Fé”, novela exibida às 19h na Rede Globo, a atriz interpreta Clara, uma mulher que sofre um relacionamento abusivo e encontra conforto ao ser acolhida por outras mulheres. “Acho que a Clara é muito um retrato da sociedade: uma mulher típica de classe média alta que sofre um abuso e começa a refletir. Quanto mais falarmos sobre a violência doméstica, o abuso, mais vamos poder ajudar mulheres a entender o que estão passando, já que esse tipo de problema acontece em todas as classes sociais. No ar, o desabrochar dela, a procura pela autoestima, a força que ela vai criando, isso tudo é muito importante para passar uma mensagem para as mulheres então denomino um trabalho de identificação. Não sei se é o maior desafio, mas ele também é muito forte”, declara.
Brinquei ao escrever no começo sobre a repercussão dos personagens da atriz porque ela já teve que andar com seguranças por conta da vilã Dóris, na novela “Mulheres Apaixonadas”, que agredia e desrespeitava os avós. E olha que ela coleciona momentos de emoção durante encontros inusitados com o público. “Uma vez saindo de um elevador a mulher estava com um jornal na mão e me bateu dizendo que eu tinha que mudar meu comportamento. É engraçado porque prova que estou fazendo um bom trabalho, mas, por outro lado, quando te ofendem, não é assim algo tão bom, né?”, brinca.
Na vida real, a mãe de João Gabriel, de 9 anos, e Antônio, de 7, namora há seis meses o empresário Duda Peixoto. A atriz se separou em 2018 e diz que nunca se sentiu atraída a um relacionamento homossexual. “É difícil falar porque eu não tenho essa experiência de viver uma relação homossexual e nunca passei por isso, mas pela identificação da personagem, percebi que a decepção com o masculino pode servir para que a mulher se sinta mais acolhida por outra semelhante, entende? Também acho que 40 anos é uma grande virada na vida. Eu não tenho nada contra, realmente, eu nunca tive uma vontade dessas, mas acho que quanto mais livre os seres humanos forem, mais felizes serão. Isso é até um mantra que a gente fala, para que todos os seres do planeta sejam livres, para serem felizes, e eu acho que é nisso que eu acredito”.
Ao falar com exclusividade para esta coluna, a declaração mais inusitada de Regiane não foi com relação à personagem que está no ar, mas, sim, no que se refere à preferência de atuação. “Eu, Regiane, prefiro sempre fazer a coadjuvante, que eu acho que dentro de uma dramaturgia, tem todo um processo e tempo para se preparar. A novela começa com os protagonistas, sendo que no meio da trama os coadjuvantes entram em ação. Depois no final, fecha com os protagonistas novamente. Quando temos a oportunidade de fazer o coadjuvante, temos um tempo maior de preparo, de estudo e aproveita mais as cenas. Sou uma pessoa que realmente gosta de estudar, de pensar em toda essa trajetória da personagem. Então, acho que acaba chamando atenção nesse sentido. Tenho muita paixão pelo que eu faço e isso transcende, o público capta essa energia”, explica.
Mais do que a opção sexual de Clara, Regiane destaca todo o trauma passado pela personagem, quando ela começa a entender verdadeiramente quem é seu marido. “A sequência de cenas em que começa a cair a ficha dela, em que ela começa a entender realmente o que está acontecendo, é carregada de emoção e podemos dizer que bem densa. Também o enredo é recheado de atrizes e atores talentosíssimos. Acho que também era um auge da personagem, do que estava acontecendo. Você fazer toda essa transformação: ela pega o marido com a namorada do filho, aí ela vai tirar satisfação, aí a namorada e a mãe contam realmente quem é o marido e ela vai tentando entender e ao mesmo tempo, ela vai e defende o filho, enfim, são cenas complexas e importantes”, desabafa. No auge da carreira e prestes a fazer 45 anos, a atriz dispara sobre etarismo: “É muito bom envelhecer com uma mente saudável. É muito bom poder analisar de maneira madura uma situação e descobrir o que pode ou não ser benéfico em um contexto. Eu acho normalmente quem tem esses preconceitos em relação à idade, talvez sejam pessoas mais novas, mas infelizmente elas também caminham pra esse mesmo destino, todos iremos envelhecer. Acho que não tem como fugir. Faço pilates com um senhor de 82 anos e pretendo chegar nessa idade como ele, com a cabeça boa, conversando, trocando ideias, com disposição, com saúde. Enxergo isso como uma benção. Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”. Anotou?
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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