Golpes e fraudes na venda de ingressos: uma ameaça ao setor de entretenimento e ao consumidor

Crescimento de revendedores que operam sem transparência facilita ação de cambistas, entre outros problemas que ameaçam a integridade da indústria cultural

  • Por Ricardo Motta
  • 24/08/2024 08h00
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EDSON DE SOUZA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO Apresentação do cantor Daniel no palco da 52° Efapi de Santo Antônio da Platina, no Paraná, Apresentação do cantor Daniel no palco da 52° Efapi de Santo Antônio da Platina, no Paraná

O mercado de venda de ingressos no Brasil é um dos pilares do setor de entretenimento e cultura, sustentando eventos que vão desde pequenos encontros comunitários até grandes espetáculos internacionais. Esse setor, vital para a economia nacional, movimenta bilhões de reais anualmente e proporciona à população acesso a experiências culturais únicas. Contudo, o crescimento de revendedores que operam sem transparência e sem informar adequadamente os consumidores tem gerado problemas que ameaçam a integridade da indústria cultural. A situação exige uma resposta imediata e contundente dos órgãos de defesa do consumidor e das autoridades competentes.

As plataformas regulares de venda de ingressos são fundamentais para o bom funcionamento da indústria cultural. Elas oferecem conveniência ao consumidor, eliminando a necessidade de deslocamentos e filas, além de garantir agilidade na entrega de ingressos eletrônicos, contribuindo para a sustentabilidade. Outro benefício crucial é o controle contra fraudes, reduzindo a atuação de cambistas, um problema significativo no Brasil. Essas plataformas também permitem uma gestão mais eficiente dos eventos, liberando os organizadores para focarem na parte artística e operacional, enquanto as vendas são realizadas de forma segura e eficaz.

No entanto, as revendas de ingressos operadas por empresas irregulares são uma preocupação crescente. Tais plataformas, muitas vezes, não informam claramente que os ingressos vendidos são de segunda mão, induzindo o consumidor ao erro ao fazê-lo acreditar que está comprando ingressos diretamente dos organizadores ou de uma fonte oficial. Essa prática desrespeita o consumidor e gera um ambiente de desconfiança que prejudica as empresas legítimas.

A ausência de informações claras nesses canais pode levar o consumidor a pagar preços exorbitantes, muitas vezes acima do valor de mercado. A falta de transparência coloca o consumidor em posição vulnerável, sem saber se o ingresso adquirido é autêntico ou se terá acesso ao evento. Tal prática fere diretamente os princípios básicos do Código de Defesa do Consumidor, que assegura o direito à informação adequada e clara sobre produtos e serviços.

Outro ponto crítico é a ausência de identificação das empresas responsáveis pela intermediação da venda de ingressos nesses sites não regulamentados. Muitas vezes, tais empresas operam mediante entidades estrangeiras que não possuem representação no Brasil, dificultando ou até impossibilitando a responsabilização em casos de problemas com os ingressos adquiridos.

Entidades estrangeiras sem representação no país impedem que o consumidor saiba a quem recorrer em caso de problemas, gerando um verdadeiro labirinto burocrático que, na prática, deixa o consumidor sem proteção. Essa situação é inadmissível em um mercado que deve operar com clareza e responsabilidade, especialmente em um setor tão relevante como o de eventos e entretenimento. As empresas regularmente constituídas no Brasil, que seguem todas as regras e regulamentações, acabam sendo prejudicadas por essas práticas desleais e fraudulentas.

A revenda de ingressos sem uma verificação rigorosa da autenticidade dos bilhetes por operadores irregulares abre caminho para fraudes na indústria cultural, facilitando a atuação de cambistas que exploram a falta de segurança e controle para enganar o público.

A atuação de cambistas no mercado de ingressos representa um problema adicional que afeta diretamente os consumidores. Esses intermediários, atuando de forma ilegal, aproveitam-se da alta demanda por eventos para vender ingressos falsificados ou a preços inflacionados. A ausência de fiscalização eficaz permite que esses cambistas operem livremente, lesando consumidores e minando a confiança do público. Este mercado paralelo escapa ao controle efetivo das autoridades e gera insegurança para todos os envolvidos na organização de eventos, com impactos inclusive na segurança física de quem apenas queria se entreter.

A inadequação dos canais de atendimento oferecidos por essas empresas irregulares é outro ponto que merece destaque. Muitos desses websites limitam o atendimento a e-mails ou a números de telefone internacionais, com horários incompatíveis com o fuso horário brasileiro, tornando quase impossível para o consumidor resolver problemas de forma ágil e eficiente. Essa falta de suporte não só frustra o consumidor, mas também representa um total desrespeito aos seus direitos.

O contraste com as empresas legítimas de venda de ingressos, que investem em atendimento de qualidade e acessível, é gritante. Essas empresas compreendem a importância de oferecer um serviço de suporte eficiente para garantir a satisfação de seus clientes, enquanto os operadores desonestos parecem atuar com o mínimo de compromisso com a experiência do consumidor. Esse descaso deve ser combatido com rigor, garantindo que todos os envolvidos no mercado de ingressos sejam responsabilizados por oferecer um serviço à altura das expectativas e dos direitos dos consumidores brasileiros.

O uso indevido de materiais pertencentes a artistas, bandas e expositores por empresas fraudulentas é uma prática inaceitável que não pode ser ignorada. Além de violar as leis de propriedade intelectual, essas ações configuram concorrência desleal e desviam clientela, impactando diretamente as receitas das empresas legalmente estabelecidas. Trata-se de uma prática ilegal que prejudica tanto os artistas quanto os produtores de eventos, cujos trabalhos são explorados sem qualquer tipo de autorização ou compensação.

O desvio de clientela e a simulação de plataformas legítimas não apenas afetam economicamente as empresas envolvidas na produção e organização de eventos, mas também minam a confiança do consumidor no mercado de entretenimento como um todo. As sanções para essas práticas devem ser severas, e a fiscalização precisa ser intensificada para garantir que o mercado opere de forma justa e legal.

A manipulação de preços por essas empresas, que cobram valores exorbitantes sem justificativa, é uma prática que prejudica o consumidor e distorce o mercado. Esses operadores exploram a falta de informação e o desejo dos consumidores de participar de eventos populares para inflacionar artificialmente os preços, criando barreiras de acesso muitas vezes intransponíveis. Essa prática infringe claramente as leis de defesa do consumidor e deve ser combatida com rigor. O mercado de ingressos deve ser acessível a todos, e a manipulação de preços, especialmente por intermediários que não agregam valor ao processo, é uma afronta ao princípio da livre concorrência e ao direito do consumidor de pagar um preço justo.

A revenda de ingressos sem a devida regulamentação e informação ao consumidor revela um cenário alarmante que exige ação imediata. As práticas desleais dos revendedores fraudulentos e cambistas prejudicam tanto os consumidores quanto a integridade do mercado de entretenimento no Brasil. As empresas legalmente constituídas, essenciais para a promoção de eventos culturais, não podem ser prejudicadas por essas práticas ilegais. É crucial que os órgãos de defesa do consumidor intensifiquem a fiscalização e reprimam essas atividades nocivas com rigor. Somente uma ação firme e coordenada pode restaurar a confiança no mercado e garantir um ambiente justo e transparente. O futuro do entretenimento depende de medidas enérgicas agora; a inércia não é uma opção.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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