Constantino: Guedes está certo em alertar que alta do dólar ‘veio para ficar’

  • Por Jovem Pan
  • 27/11/2019 09h31 - Atualizado em 27/11/2019 09h34
Fernando Frazão/Agência Brasil O alto valor da moeda tem a ver com as taxas de juros mais baixas no Brasil

O dólar comercial disparou, nesta terça-feira (26), chegando a maior cotação já registrada, de R$ 4,2771. Para tentar driblar a situação, o Banco Central (BC) chegou a intervir, vendendo a moeda norte-americana em dois leilões, mas não conseguiu impedir que a cotação terminasse o dia em seu maior valor nominal histórico: em alta de 0,59%, aos R$ 4,24

“De fato, cada um tem uma explicação e a gente tem que evitar as muito simplistas, que tentam buscar causa e efeito imediato – inclusive ligado a coisas que governantes, ou o presidente ou o ministro disseram, mas não funciona bem assim. É uma moeda que sofre intervenção de inúmeros fatores, principalmente tensões externas, questão de avaliação de risco e capacidade de pagamento em moeda estrangeira internas, e também, obviamente, humores de marcado, oferta e demanda e tudo mais.

Então não é assim, atribuir à fala de Guedes sobre o AI-5, dizer que pressionou o dólar. Isso é uma análise muito simplista e equivocada. Na verdade, o ministro Paulo Guedes contribuiu mais ainda com a alta da moeda com a fala sobre o próprio câmbio, e não com a fala sobre o AI-5. E por que? Porque ele reconheceu, ali, que existem fatores estruturais por trás dessa alta – e ele está certo.

O principal desses fatores é a redução sistemática e sustentável da taxa de juros no Brasil. Ou seja, o real está tendo menos retorno hoje em dia, o que faz com que os investidores percam o interesse em apostar em ativos brasileiros, e isso pressiona a moeda. Fora isso, claro que a tensão política, postergar reformas, tudo isso não ajuda. Mas são fatores apenas pontuais e conjunturais.

Por trás da alta mais robusta e da tendência da valorização do dólar frente ao real está, mesmo, essa questão de você ter retornos menores em reais por conta das reformas e de uma melhoria do cenário econômico do Brasil. Isso pressiona a moeda em relação ao dólar porque você tem menos justificativa, principalmente do ponto de vista do investidor estrangeiro, para aplicar em ativos reais.

Então não vamos aderir a teses conspiratórias ou a explicações simplistas. É um fenômeno complexo. Se fosse fácil evitar a tendência do dólar e saber qual valor ele estará amanhã, estaríamos todos ricos, e não fazendo análises. Então é algo muito mais abrangente e complexo, mas eu acho que o ministro está certo a alertar que a alta veio para ficar.

É uma alta frente à outras moedas, não só ao real, por conta de vários fatores externos -principalmente a guerra comercial entre Estados Unidos e China -, mas no caso específico do Brasil temos esses valores estruturais que tem a ver com a revolução das taxas de juros mais baixas no nosso país”, disse Constantino.

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