Berlim achou que era boa ideia congelar aluguéis, então imóveis sumiram

Encontrar um lugar para viver na capital alemã ficou muito mais difícil: há fila de espera de interessados, e a imprensa alemã chega a falar que, para cada imóvel vago, há 500 pessoas

  • Por Samy Dana
  • 27/11/2020 17h16 - Atualizado em 27/11/2020 18h29
Pixabay Berlim Famosa pela efervescência cultural, Berlim tem seus imóveis disputados por turistas e locais

Nove meses atrás, a prefeitura de Berlim, na Alemanha, começou a aplicar uma lei que congela os aluguéis por cinco anos. A medida foi saudada em vários lugares, inclusive aqui no Brasil, pelo candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, como uma ação eficaz para garantir moradia acessível à população. No caso de Berlim, o que pesou foi a fama da cidade, favorita de artistas e de músicos europeus desde a época dos Beatles, fenômeno que se acelerou nos últimos dez anos. Quarenta mil estrangeiros se mudaram para a capital alemã, disputando apartamentos com os locais. Mesmo numa cidade onde 85% dos habitantes vivem em um imóvel alugado, a demanda foi alta. 

O fenômeno foi acirrado pelas plataformas de aluguel de imóveis, como o Airbnb, fazendo com que pessoas com dinheiro comprem mais de um apartamento e botem para alugar para viajantes. Com a fama da cidade em alta, os turistas também passaram a disputar imóveis com os locais. Resultado: os aluguéis subiram. Foi quando os moradores começaram a reclamar. Uma cidade que sempre foi acessível – e ainda é na comparação com Londres ou Paris – de repente ficou cara. A prefeitura, para atender as reclamações, decidiu congelar os preços dos aluguéis. Até 2025, o preço não sobe entre os imóveis mais recentes, construídos desde 2014. Além disso, foram aplicadas regras que obrigam os proprietários a diminuir os valores em até 40%. Funcionou?

Como era de se esperar, o número de imóveis para alugar caiu dramaticamente. Quarenta e dois por cento entre os imóveis em geral e 59% entre os mais novos. Encontrar um lugar para viver em Berlim ficou muito mais difícil. Há fila de espera de interessados, e a imprensa alemã chega a falar que, para cada imóvel vago, há 500 pessoas. Dependendo do bairro, o apartamento não fica nem um dia para ser alugado. Mais proprietários preferiram alugar os apartamentos para turistas. Outros, resistindo ao congelamento, preferem deixar o imóvel vazio a alugar nas condições impostas pelo governo. Em outros casos, há o aumento disfarçado do aluguel. Apartamento mobiliado, por exemplo, muitas vezes envolve preços exorbitantes pelo aluguel da mobília. Que é um jeito encontrado de cobrar preços de mercado pelo imóvel. A Alemanha começa a ver também surgir um fenômeno brasileiro, o pagamento por fora. O contrato custa um valor no papel, mas o locatário paga alguma compensação.

Depois do congelamento
Imóveis em geral -42%
Móveis novos -59%

As autoridades dizem que o problema foi a epidemia de Covid-19 logo depois da nova lei ser adotada com menos imóveis ofertada. Mas plataformas de aluguel apontam que a oferta pode ter caído devido ao aumento dos casos a partir de março, mas depois houve em recuperação. Menos em Berlim. Mesmo quando há boa intenção, não dá para negar regras básicas da economia. A alta do aluguel em Berlim não se deve à ganância dos proprietários, mas de mais inquilinos no mercado. Ao intervir no mercado a prefeitura pode ter obtido uma queda artificial dos preços. Mas criou um problema para seus moradores: a falta de um lugar para morar.

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