Do ‘Velho Oeste’ à regulação: as lições aprendidas no último ano pelo mundo cripto

A queda das criptomoedas sem respaldo e o colapso de plataformas pouco transparentes abriram caminho para um ecossistema cripto mais amigável e focado em ativos

  • Por Silvina Moschini
  • 22/06/2023 10h00
Kanchanara/Unsplash Homem digita em notebook com gráficos de investimentos, em superfície cinza, e exibe relógio no braço direito (só os braços aparecem); ao lado esquerdo, aparecem moedas e um celular Cenário atual mostra um mercado cripto com claros sinais de maturidade

“Inverno” e “crash” costumam ser as palavras mais frequentes para definir os momentos de declínio do mercado cripto. Embora a mídia, mesmo a especializada, utilize os termos como sinônimos, o primeiro é implicitamente mais otimista: não há inverno que dure mais de 3 meses. O segundo dispensa maiores comentários.

Um ano após o inverno cripto, essa distinção é fundamental porque, enquanto os “crashes” marcaram o fim irreversível das moedas com respaldo fictício ou nulo (Luna e Terra), o ecossistema conseguiu se recuperar no médio prazo. É verdade que o Bitcoin protagonizou naquele momento a sua maior queda mensal desde 2011, mas também é verdade que o fenômeno foi seguido por uma “primavera” de alta.

Meses depois, o colapso da FTX colocou mais uma vez em xeque as expectativas do mundo cripto. A queda foi ainda mais impactante porque, ao contrário do que ocorreu durante o “inverno cripto”, a crise foi desencadeada por uma plataforma de exchange de criptomoedas, e não por uma criptomoeda em si. Rapidamente, no entanto, ficou claro que estávamos diante da pior combinação de más práticas e lacunas regulatórias, e que o “Velho Oeste” cripto encarnava sua versão mais infeliz nas Bahamas e na figura de Sam Bankman-Fried.

Vento a favor da regulamentação

Embora cada crise acabe configurando um novo “tabuleiro” (e não um fim de jogo), não faltam previsões pessimistas sobre o colapso do Bitcoin em particular e o fim das criptomoedas em geral. Esta profecia não só não se cumpre como, ironicamente, as moedas digitais têm ganhado terreno face aos erros cometidos pelos atores financeiros “tradicionais”. Um sinal disso foi visto em março nos Estados Unidos, quando o download de aplicativos de negociação de criptomoedas dispararou após a crise bancária.

O cenário atual mostra um mercado cripto com claros sinais de maturidade, já que algumas de suas características menos vantajosas continuam sendo corrigidas. As recentes denúncias da SEC (Securities and Exchange Commission), órgão do governo norte-americano que regula o mercado financeiro, são, desse ponto de vista, um claro vento favorável.

Para além dos questionamentos específicos da comissão contra a Coinbase e a Binance, dois agentes de peso da criptoeconomia, o evento é interpretado como um sinal contundente na direção da regulamentação e seu cumprimento efetivo. Alguns especialistas afirmam que o “faroeste cripto” finalmente tem um “xerife”, e que isso representa o início de uma nova era.

Mas a regulamentação não é o único elemento que passa a ter um papel imprescindível nesta etapa da história das criptomoedas. O respaldo, por vezes minimizado, torna-se um valor cada vez mais transcendente. No extremo oposto das meme-coins, tão virais quanto instáveis, as moedas digitais lastreadas em ativos e projetadas para atenuar a volatilidade têm surgido e se reafirmado como uma alternativa à primeira geração de criptomoedas.

A transição rumo ao novo cenário é gradativa, e provavelmente não está isenta de retrocessos e movimentos contraditórios. Entretanto, os três momentos fundamentais vividos no último ano pelo mercado cripto deixam evidente que o futuro do dinheiro ainda está sendo escrito, e que a regulamentação e o respaldo serão conceitos cruciais nesse novo panorama.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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