Conservadores chegarão a lugar nenhum sem olhar para a cultura popular

  • Por Carlos Andreazza/Jovem Pan
  • 02/03/2017 07h47
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Reprodução/Facebook Desfile da Império Serrano no Carnaval 2017

Muitos ouvintes e leitores protestam contra o fato de eu gostar e falar publicamente de carnaval e escola de samba. De modo geral, os comentários podem ser resumidos assim:

“Andreazza, esqueça carnaval e escolas de samba. Vamos nos concentrar em como tirar o Brasil desse buraco.”

Eu gosto de carnaval e escola de samba porque gosto. Sempre gostei. Desde moleque. É afeto puro. Sem explicação. Amor. Lembranças bonitas, memórias minhas e dos mais velhos. Tradição. Gosto mais do Império Serrano – a escola de samba – do que de carnaval e de escola de samba genericamente. Gosto e desejo conservar aquilo de que gosto. Um sentimento puro, nem um pouco politizado. Mas… Querem falar de política? Bem… Vamos lá. Camuflado no tom superior dos que não aceitam que um editor goste de samba está a noção de que o buraco em que o Brasil se meteu só tem solução na elite, com a elite, por meio da elite.

É erro grave. Estupidez.

Os conservadores brasileiros chegarão a lugar nenhum enquanto não se interessarem e compreenderem a natureza e a dinâmica da cultura popular. Levantem o traseiro da biblioteca e olhem para a rua, para as gentes que ainda agora festejam o carnaval nas barraquinhas de Madureira. É ali, nos gostos do povo, que está o campo de influência a ser disputado. Não na alta cultura. A extraordinária leitura de gênios como Roger Scruton os trouxeram até aqui. Querem mudar alguma coisa doravante, de verdade, na prática? Baixem o nariz e vão disputar a hegemonia político-cultural no Mercadão de Madureira.

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