CUNHA: Marco Aurélio, o do “10 a 1”. Ou: Cunha e Dilma: um comeu outro, e outro comeu um
O ainda deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) precisa refletir: quando o ministro Marco Aurélio fica sozinho numa votação, topando encarar um 10 a 1 — duas mãos inteiras contra um só ministro —, é porque pode haver algo de errado na tese abraçada por… Marco Aurélio.
Notem: eu adoro o dissenso. O meu primeiro livro se chama “Contra o Consenso”. Mas é inegável, e os meios jurídicos estão fartos de sabê-lo, que Marco Aurélio põe o seu talento e as suas reflexões — para lembrar seu homônimo mais antigo e famoso — a serviço de algumas idiossincrasias. Como diziam as minhas filhas até outro dia, ele “gosta de causar”.
Dez ministros não acolheram nenhum de seus óbices. Como aqui se diz tudo, não perderei a oportunidade. Escreveu Roberto Barroso, o relator: “(Deve-se) somente intervir para assegurar a proteção da Constituição, dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia e das instituições republicanas”.
Tendo a concordar com Barroso nesse caso, mas lembro que este ministro abriu a divergência que resultou na anulação de uma eleição para a Comissão do Impeachment na Câmara que atendia aos fundamentos da Constituição e do Regimento Interno. Qual Barroso vale? Aquele ou este? Sim, eu poderia deixar essa questão passar em brancas nuvens, mas aí seu não seria eu, certo? Volto ao ponto.
Marco Aurélio, o ministro diferente, condescendeu com a tese de que o julgamento tem de ser suspenso porque o fato de Cunha estar afastado tolhe o seu direito de defesa.
Inexiste legislação a respeito ou precedente. Temos, por exemplo, por associação de ideias, dois presidentes que passaram pelo julgamento final afastados de seus cargos. Aliás, nesse caso, o afastamento é um pressuposto do processo.
Nada dispõe a lei sobre o caso de deputados. Ocorre que esse mesmo tribunal sabe por que afastou Cunha: considerou-se que ele usava o cargo para obstar o processo. Acolher essa reclamação agora seria ignorar a outra votação.
Cunha sabe que já era. Segundo levantamentos feitos pela Folha, pelo Estadão e pelo Globo, já existe o número suficiente de deputados para aprovar o relatório que pede a sua cassação. E ele se tornará inelegível, segundo a Lei da Ficha Limpa.
A votação está prevista para segunda-feira. Sim, seus aliados ainda tentarão uma coisa aqui outra ali. Mas será inútil.
Tão logo seja cassado, será o caso de a gente comemorar um desfecho virtuoso da luta travada entre ele e Dilma. Como numa antiga piada de quando eu era criança: um comeu outro, e o outro comeu um.
É um avanço. No Brasil de há não muito tempo, os dois teriam se salvado e comido o povo brasileiro.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.