Delação de Delcídio dirá até onde Janot está disposto a ir
Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, pode estar diante do seu “Moisés do Oficialismo”. Se realmente fizer o que se anuncia nos bastidores que está disposto a fazer, atingirá a perfeição. Estaremos diante da Grande Arte. Por que digo isso?
Janot estaria disposto a mandar investigar Deus e o mundo desta vez. Sim, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) deve ser um deles. O próprio tucano já expressou essa certeza e até esse desejo. Contra ele, Delcídio faz uma acusação direta, ainda que venda ao Ministério Público Federal o peixe que comprou de terceiros — no caso, de José Janene: Aécio receberia propina de Furnas. Sendo quem é, o presidente do PSDB sabe que não ficará livre de um pedido de inquérito ao menos. No mínimo, a força-tarefa usará o seu nome para evidenciar a sua isenção.
Janot estuda também enviar ao Supremo um pedido de investigação de Dilma. Ela teria feito gestões junto ao STJ e ao STF para tentar livrar a cara de acusados do petrolão, em companhia de José Eduardo Cardozo, atual advogado geral da União — que, ora vejam, tem de entrar na lista.
Se for apenas com base nisso, duvido que o Supremo aceite. Afinal, os presos estão presos, não é mesmo? Muito mais evidente, aí sim, é a ação do ministro Aloizio Mercadante, numa clara tentativa de obstrução da Justiça. E sobra a evidência, ao menos na conversa, de que falava com delegação de Dilma. Os dois negam. Bem, Mercadante não escapa, suponho.
Ah, sim: o procurador-geral ainda não sabe se pedirá que Lula seja investigado — agora no petrolão propriamente. Dois delatores premiados dizem que ele atuou para que o Grupo Schahin, ao qual o PT devia R$ 60 milhões, fechasse um contrato para aluguel de navio-sonda da Petrobras no valor de US$ 1,6 bilhão.
Fernando Baiano e o próprio Nestor Cerveró afirmaram que este foi nomeado para a BR Distribuidora como agradecimento por ter viabilizado o acordo do navio-sonda. Salim Schahin admite que perdoou a dívida depois que conseguiu o contrato. José Carlos Bumlai, o amigo de Lula, assume que serviu de laranja no empréstimo. Agora é Delcídio quem diz que Lula participou pessoalmente da indicação de Cerveró — como sustentam Baiano e o próprio indicado.
Mas e Michel Temer? Bem, Delcídio afirma que ele referendava todos os nomes de diretores da Petrobras indicados pelo PMDB, incluindo dois investigados. É o que se tem contra ele. Venham cá: o presidente do PT à época em que o companheiro Renato Duque foi nomeado vai ser denunciado também? Ou ele não aprovava tais indicações?
A Procuradoria-Geral da República pode, desde sempre, pedir abertura de inquérito ou oferecer denúncia. A pior coisa que pode acontecer para a Lava Jato é Janot pedir abertura de inquérito para todo mundo, como se dissesse que as acusações contra Lula, Dilma, Aécio e Temer têm o mesmo peso. E não têm. Se é para pedir que todos sejam investigados, que ao menos se distingam, então, pedidos de inquérito de denúncia.
A propósito: por que, até agora, Lula não é um investigado no caso do navio-sonda? Já são quatro os delatores que o colocam na cena do acordo espúrio com o Grupo Schahin. No caso de Temer, no entanto, o que se tem é apenas Delcídio afirmando que o peemedebita aprovou a indicação de dois diretores da Petrobras flagrados, posteriormente, em malfeitos. Isso é suficiente para pedir uma abertura de inquérito?
Vamos ver: a delação de Delcídio força a Procuradoria-Geral da República a fazer distinções necessárias.
De todo modo, a última palavra sobre abertura ou não de inquérito ou aceitação ou não da denúncia contra todos esses nomes caberá ao Supremo. Dilma, Temer e Aécio já têm foro especial por prerrogativa de função. E Lula passará a tê-lo caso se torne mesmo ministro.
Por que essa questão é importante? Porque há gente doidinha pra sair por aí a dizer que todo mundo é mesmo igual e que, então, tudo fique como está.
Não caio nessa!
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