Dilma foge de entrevista em emissora de televisão; entenda
Reinaldo, Dilma fugiu da entrevista ao Jornal da Globo. Isso ajuda na sua candidatura?
É claro que não. Os números das pesquisas eleitorais não dão motivos para o tucano Aécio Neves sorrir de satisfação. Mas, vá lá, ele pleiteia o poder federal, não o tem. No caso dos petistas, é diferente. O partido está em pânico e, creiam, não o vejo cometer erros tão brutais desde 1994, quando não percebeu a importância que tinha o fim da inflação para o povão e decidiu se opor ao Plano Real.
Nesta terça à noite, o “Jornal da Globo” viu acontecer algo inédito desde 2002, quando teve início a prática: um presidenciável se negou a conceder uma entrevista previamente agendada. E a faltosa foi ninguém menos do que Dilma Rousseff, do PT, presidente da República e candidata à reeleição. O que ela alegou? Nada. Simplesmente mandou dizer que não haveria entrevista.
Além de ser um tanto desrespeitoso com o trabalho da imprensa, isso demonstra o desespero que toma conta da campanha de Dilma desde que Marina Silva, do PSB, deu iniciou à sua meteórica ascensão, depois da morte de Eduardo Campos. Se a disputa com Aécio já vinha se afigurando crescentemente difícil para Dilma, o confronto com Marina, caso se desse hoje, a tiraria do trono. A petista viu a candidata do PSB tomar do tucano o segundo lugar, encostar nela no primeiro turno, vencê-la no segundo e, agora, dados os levantamentos feitos pelo próprio Planalto, a ex-senadora já lidera a corrida também na etapa inicial.
Nesta terça, dia em que Dilma deveria conceder a entrevista aos jornalistas William Waack e Christiane Pelajo, o Ibope divulgou o resultado da pesquisa para a eleição presidencial em dois colégios privilegiados. Até a semana passada, Dilma liderava no Rio, com 38% a 30% contra Marina; Aécio tinha 11%. A estarem certos os números, o tucano manteve o mesmo percentual, mas a petista é agora derrotada por 38% a 32%. Ou por outra: Dilma perdeu oito pontos, e Marina ganhou 6 ― uma mexida de 14 pontos em sete dias. Em São Paulo, a distância seria bem maior: a ex-senadora saltou de 35% para 39%, e a presidente manteve os 23%. O senador mineiro oscilou de 19% para 17%.
Aguardam-se para esta quarta os números nacionais do Ibope. Certamente, vem uma ducha de água fria na cabeça de Dilma, num momento em que o petismo tenta respirar, em esforço concentrado para desconstruir Marina. Mais uma vez, o PT resolveu tirar a causa gay do armário para demonizar adversários. O esforço pode ser contraproducente.
Dilma e o PT passaram pelo vexame de ver as perguntas no ar sem resposta. Ouçam o que queriam saber Willian Waack e Christiane Pelajo:
1. Os últimos índices oficiais de crescimento indicam que o país entrou em recessão técnica. A senhora ainda insiste em culpar a crise internacional, mesmo diante do fato de que muitos países comparáveis ao nosso estão crescendo mais?
2. A senhora continuará a represar os preços da gasolina e do diesel artificialmente para segurar a inflação, com prejuízo para a Petrobras?
3. A forma como é feita a contabilidade dos gastos públicos no Brasil, no seu governo, tem sido criticada por economistas, dentro e fora do país, e apontada como fator de quebra de confiança. Como a senhora responde a isso?
4. A senhora prometeu investir R$ 34 bilhões em saneamento básico e abastecimento de água até o fim do mandato. No fim do ano passado, tinha investido menos da metade, segundo o Ministério das Cidades. O que deu errado?
5. Em 2002, o então candidato Lula prometeu erradicar o analfabetismo, mas não conseguiu. Em 2010, foi a vez de a senhora, em campanha, fazer a mesma promessa. Mas foi durante o seu mandato que o índice aumentou pela primeira vez, depois de 15 anos. Por quê?
6. A senhora considera correto dar dentes postiços para uma cidadã pobre, um pouco antes de ser feita com ela uma gravação do seu programa eleitoral de televisão?
É claro que a entrevista não se resumiria a isso porque estava prevista a intervenção dos jornalistas para aclarar eventuais ambiguidades ou apontar contradições. O PT não sabe mais o que fazer.
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