Dilma Rousseff fica com “latifúndio” com tempo de propaganda na TV

  • Por Jovem Pan
  • 11/07/2014 11h42
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Reinaldo, saiu a distribuição do tempo de TV no horário eleitoral gratuito da disputa presidencial. O que é que ela nos diz?

É, saiu sim, e expõe, por si, a imoralidade em que se transformou isto que, em tese, seria uma forma de privilegiar a democracia. O tempo transformou-se em mercadoria, em moeda de troca. Por causa dele, governos de turno, nas três esferas da administração, loteiam a coisa pública. Uma reforma política que fosse levada a sério começaria por rever essa indecência. Mas, claro, isso não vai acontecer.

E atenção, não digo essas coisas porque Dilma ficou com um latifúndio, não. Essa é a minha opinião desde que essa estrovenga existe. Vamos lá. A candidata do PT ficou com 11min48s do tempo – ou 47,2% do total. É o que resulta da coligação de nove partidos: PT, PMDB, PSD, PP, PR, PROS, PDT, PCdoB e PRB.

O tucano Aécio Neves tem o segundo maior tempo, mas que corresponde a menos da metade daquele destinado à sua adversária: 4min31s. Também ele conta com o apoio de nove legendas. Muitas, no entanto, são pequenos partidos, que rendem apenas alguns segundos. São eles: PSDB, PMN, SDD, DEM, PEN, PTN, PTB, PTC e PtdoB.

Em terceiro, mas muito atrás, vem Eduardo Campos, com 1min49s. Conta com o apoio de PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL. Pastor Everaldo, candidato do PSC, terá 1min8s. Na sequência, está Eduardo Jorge, do PV, com 1min1s. Os outros seis candidatos têm menos de um minuto: Luciana Genro (PSOL), 51s; Eymael (PSDC), 47s e Levy Fidelix (PRTB), Zé Maria (PSTU), Mauro Iasi (PCB) e Rui Pimenta (PCO), todos com 45s.

Quero que o ouvinte tenha claro uma coisa: eu sou contra a existência do horário eleitoral gratuito – que, para começo de conversa, gratuito não é. Nós pagamos. As emissoras de rádio e TV deixam de arrecadar impostos – e é justo que assim seja porque, afinal, no tempo em que mantêm os políticos no ar, deixam de veicular propaganda.

Uma vez existindo esse troço, é preciso haver algum critério para distribuir o tempo. E se usa como base a bancada de deputados. Ocorre que o tempo de TV deveria ser uma decorrência de alianças formadas com base em afinidades, princípios, causas comuns. Em vez disso, o que se tem é um comércio descarado. Como se o partido dissess:  “Querem o meu tempo? Troco pelo ministério X”. Ou não vimos Dilma Rousseff tirar César Borges da pasta dos Transportes por exigência do PR? Foi o preço para ela contar com o tempo de que dispunha o partido na TV. Ou vocês acham que PCdoB e PP têm uma agenda comum?

A forma que tomou essa questão no Brasil envergonha a institucionalidade e a democracia. Reparem: gratuito, o tempo não é porque, insisto, nós pagamos. Então, os políticos já negociam algo que nos pertence. E o fazem em troca de nacos da administração pública, que igualmente nos pertence. Usam o que é nosso para se apropriar do que também é nosso. Algum político terá um dia a coragem de propor o fim dessa indecência?

 

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