É claro que Temer não demitiu o ministro da Justiça. Ainda bem! Demitir por quê?
Pois é… Petistas e colunistas de esquerda estão pedindo a cabeça do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, porque este teria vazado que uma nova fase da Operação Lava Jato estava para ser deflagrada. Já tratei desse assunto ontem. Volto a ele. É claro que a fala do ministro, especialmente porque se deu em Ribeirão Preto, terra de Antonio Palocci, gerou desconforto. O presidente Michel Temer chamou Moraes e lhe fez uma advertência. E o manteve no cargo. Ainda bem. Não era mesmo o caso de demitir.
Vamos lá. Eu sabia que estava prestes a acontecer uma nova operação. O próprio Palocci se preparava para ela desde que viu Guido Mantega ser preso — e solto em seguida. O homem não chegou tão alto na República e não tem a reputação que tem no PT porque seja ingênuo. Estou enganado ou a própria imprensa já havia antecipado que Palocci, Guido Mantega e Luciano Coutinho são personagens de destaque das respectivas delações de diretores da Odebrecht? Estou enganado ou eles todos já foram citados por outros delatores, como Ricardo Pessoa, da UTC?
Não estou dizendo que Alexandre de Moraes fez bem em dizer que haveria uma nova fase em breve. Mas convém não tentar conferir a isso um peso que obviamente não tem. Venham cá: se nós, os jornalistas, sempre ficamos sabendo quando está prestes a estourar uma nova operação ou uma nova fase, por que seria grande escândalo se o ministro o soubesse? Uma coisa é saber; outra, distinta, é interferir na decisão de policiais, de procuradores e do juiz — ou de juízes. Quem aí em sã consciência se atreveria a dizer quer Sergio Moro está a serviço do governo Temer. Nem o PT envereda por aí.
E cumpre lembrar: quem mandou prender Palocci foi Sergio Moro. Quem decretou o bloqueio de R$ 128 milhões da sua conta e de outros foi Sergio Moro. Quem determinou todas as diligências policiais foi Sergio Moro. O ministro Alexandre de Moraes não tem nada com isso. Acho que o presidente Michel Temer faz bem em recomendar que não se manifeste a respeito. Mas é evidente que não faz sentido demitir o ministro por isso. É o que querem, claro!, os adversários do governo porque assim poderiam conferir verossimilhança à máxima de que o Planalto controla a Lava Jato.
E, curiosamente, Moraes só disse o que disse — que haveria novas fases da operação — para evidenciar que não há controle nenhum. Mais: para deixar claro que a operação é independente. Se Palocci sabia que estavam prestes a chegar a ele, por que Moraes não saberia? Se todos nós, jornalistas, que acompanhamos a questão sabíamos disso, por que não o ministro da Justiça?
Afinal, qual é a hipótese? A de que o ministro poderia ligar para Sergio Moro para, sei lá, sugerir uma cadeiazinha para Palocci para prejudicar os petistas? Ainda que se quisesse alegar que Moraes tem seus braços na PF porque, afinal, o departamento é subordinado funcionalmente à Justiça, todos sabem que o Planalto não tem como comandar a operação.
Bem, é compreensível que o PT queria gerar uma pequena crise no governo Temer. Mas me parece que a imprensa precisa ter um pouco de senso de proporção e de limite. Vejam quantas esferas de poder Moraes teria de manipular para ser uma espécie de mão invisível dessa nova fase da operação. Afirmar que Temer expressou seu descontentamento, “mas não demitiu” o ministro dá a entender que estaríamos diante de um caso de demissão. E é claro que a resposta é negativa.
Isso é só uma tentativa de levar para dentro do Palácio do Planalto uma crise que é, uma vez mais, do PT.
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