Gestão do caso Geddel foi desastrosa, e Planalto ampliou o problema
Das respostas possíveis ao óbvio e admitido comportamento impróprio de Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, o Planalto escolheu a pior, que foi tentar varrer a questão para baixo do tapete sob o pretexto de que se trata de algo menor. Moreira Franco (Programa de Parcerias de Investimento) chegou a dizer que, dadas as urgências no Congresso, não seria conveniente a substituição do ministro. A gestão Dilma não diria nada melhor. Ou pior. Mais: ficou claro, ao longo do dia, que o presidente Michel Temer sabia das pressões de Geddel sobre o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, desde quarta-feira. Tentou contornar. Não foi possível. Como está, também não pode ficar. Vamos ver.
A Comissão de Ética da Presidência da República decidiu por unanimidade que a atuação de Geddel tem de ser investigada. O placar estava cinco a zero quando a votação foi suspensa por um pedido de vista do conselheiro José Saraiva, que é próximo da turma de Geddel na Bahia. A mãozinha dada por Saraiva saiu pior do que o soneto. A comissão só voltaria a se reunir em dezembro. A questão se arrastaria até lá. Como a maioria já estava formada, que se decidisse a coisa logo. O próprio Geddel pediu pressa. E Saraiva foi solícito mais uma vez: pôs fim ao pedido de vista logo depois de solicitá-lo e votou a favor da investigação, sendo seguido pelo sétimo elemento. E pronto! Haverá a apuração. Por sete a zero.
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Para lembrar: Geddel comprou um apartamento num projeto imobiliário que foi vetado pelo Iphan, o órgão federal que cuida do patrimônio histórico e que é subordinado à Cultura. Mantém relação de amizade com o empreiteiro. Tentou usar a sua influência para liberar a construção. Aliás, ele teve de admitir tal comportamento.
O que o governo deveria ter feito logo no sábado, quando veio à luz a entrevista em que Calero relata a pressão, depois de pedir demissão? Deveria ter admitido o comportamento inadequado de Geddel, dado um jeito de demonstrar publicamente a sua contrariedade e cobrado um pedido público de desculpas. Em vez disso, preferiu tornar pública a versão de que se tratava de algo pequeno.
Pois é… O argumento da coisa pequena é um tiro no pé. PERGUNTA ÓBVIA: QUEM FAZ ISSO NUM CASO PEQUENO É CAPAZ DE FAZER, NUM CASO GRANDE, O QUÊ? Ou será que Geddel é do tipo que só se ocupa de miudezas até R$ 3 milhões? Acho que não.
Irritação de Temer
Temer ficou irritado com Calero. Compreende-se. Acha que o ex-ministro fez tempestade num copo d’água, especialmente porque a opinião do Iphan foi a que triunfou, e o projeto não sairá na forma original, como queria Geddel. Mas isso não justifica o comportamento displicente do Planalto, até porque todos conhecem — e também o presidente — o estilo e o temperamento do ministro da Secretaria de Governo. Ele é, digamos, um político espaçoso, para dizer pouco.
Sim, o governo já deixou claro que Geddel continua. Mas precisa arrumar um bom argumento. Ou, como virou moda dizer hoje em dia, uma narrativa. Qual mesmo? A de que o assunto é irrelevante não vale. Aliás, esta segunda foi um dia em que um outro apartamento estava na berlinda, um certo tríplex no Guarujá… Já tratado do assunto em outro post. Pau que bate em Chico bate em Francisco. Dar de ombros para o comportamento de Geddel significa endossar-lhe os métodos.
O Comitê de Ética Pública não tem nenhuma função executiva ou judicial. É apenas um órgão de consulta da Presidência. Suas recomendações podem ir do arquivamento do caso à sugestão de que o servidor seja demitido, passando por uma censura pública. Arquivado, com certeza, o caso não será — ou estaríamos diante de uma vergonha. Quando menos, haverá a censura pública. Até porque Geddel transgrediu vários itens do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, que está aqui.
Não acho que seja uma questão pequena, de somenos. Mas, ainda que fosse, a inabilidade do Planalto fez com que ela ficasse grande. Ou o governo exige um pedido formal de desculpas de Geddel ou o que se tem é a admissão de um método.
Compreendo que o presidente Temer esteja irritado com o fato de Calero ter dado a entrevista à Folha. Mas quem pode contaminar o seu governo não é o comportamento do ex-ministro da Cultura, e sim o de Geddel. Calero, diga-se, apenas negou um assédio que, mais do que evidente, foi admitido pelo ainda ministro.
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