Globo não deveria ter aceito fazer entrevista com Dilma do Alvorada

  • Por Jovem Pan
  • 19/08/2014 11h26
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Reinaldo, Dilma concedeu ontem entrevista ao Jornal Nacional, um dia antes do início do horário eleitoral gratuito, que começa hoje. O que você achou?

Não vou analisar aqui a fala da candidata porque entendi, segundo seus próprios pressupostos, que quem concedeu a entrevista foi a presidente da República. Aliás, só isso explica o fato de que ela gozou de um privilégio que aos demais não foi concedido porque nem haveria como: falou na biblioteca do Palácio da Alvorada, não no estúdio do “Jornal Nacional”, a exemplo dos demais.

Entendo que a Globo não deveria ter ou aceitado a exigência ou oferecido o benefício. Benefício? À diferença de Aécio Neves e Eduardo Campos, Dilma estava em território conhecido; os outros não. Há mais: se era a candidata que falava, então havia o uso claro de um aparelho público em benefício da campanha.

Não que a entrevista tenha sido chapa branca. Não foi, não. Houve honestidade jornalística. Mas, em certo momento, houve mais dureza do que objetividade. Observação lateral antes que continua: não me venham com a cascata de que o Alvorada é a casa de Dilma, e por isso a entrevista foi concedida lá. Por esse critério, Campos e Aécio deveriam ter recebido os jornalistas, então, em suas respectivas residências. Ou bem Dilma fala como candidata ou bem fala como presidente. Como um híbrido, é que não dá. Até a luz que se via ali era pública, ora. Sigamos.

O ponto da entrevista mais escandalosamente significativo foi aquele em que Dilma se negou a censurar o seu partido por ter defendido os mensaleiros. Mais do que isso: lendo a transcrição de sua fala, a gente percebe que ela não criticou nem mesmo os criminosos. Bonner foi incisivo:

“O seu partido teve um grupo de elite de pessoas corruptas, comprovadamente corruptas. E tratou esses condenados por corrupção como guerreiros, como vítimas, como pessoas que não mereciam esse tratamento, vítimas de injustiça. A pergunta que eu lhe faço: isso não é ser condescendente com a corrupção, candidata?”.

Observem que Bonner a chamou por aquilo que ela era naquele momento: “candidata”. E o que ela respondeu? Isto:

“Eu vou te falar uma coisa, Bonner. Eu sou presidente da República. Eu não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal, por um motivo muito simples: Porque a Constituição, ela exige que o presidente da República, como exige dos demais chefes de Poder, que nós respeitemos e consideremos a importância da autonomia dos outros órgãos.”

Acontece que os jornalistas a indagavam sobre o comportamento do partido, não do Supremo. Bonner insistiu duas outras vezes que eles haviam feito uma indagação sobre o partido. Ela não mudou a resposta. Faltou ao editor-chefe do Jornal Nacional deixar claro que a pergunta era dirigida à candidata, não à presidente. Isso não foi dito.

Na prática, entre os corruptos punidos e o Supremo que os puniu, Dilma preferiu decretar um empate, embora saibamos que ela não teria autonomia para criticar os criminosos ainda que quisesse.

A presidente se enrolou na pergunta sobre a saúde, mas não sei se o telespectador percebeu desse modo. Os entrevistadores fizeram uma síntese das calamidades da área e lembraram que o partido está há 12 anos no poder. A presidente, então, acionou a tecla do programa “Mais Médicos” para demonstrar como seu governo é operoso, embora tenha dito, num dado momento, que a saúde não é “minimamente razoável”. Pois é. Não é minimamente razoável depois de 12 anos de poder petista.

É nessa hora que faltou um tanto de objetividade, números mesmo: entre 2002 e 2013, houve uma redução de 15% na taxa de leitos hospitalares (públicos e privados) por mil habitantes. Entre 2005 e 2012, o SUS perdeu mais de 41 mil leitos. Isso quer dizer que os hospitais privados pediram seu descredenciamento porque não conseguem conviver com a tabela miserável paga pelo sistema.

Hoje começa o horário eleitoral gratuito. Em razão de uma legislação indecente, que não vem de hoje – é evidente -, Dilma terá mais de 11 minutos, quase o triplo de Aécio, que vem logo a seguir, com mais de quatro minutos. O PSB terá pouco mais de 2 minutos. Dilma poderá falar, então, à vontade, sem ser contraditada por ninguém. É nessas horas que dá o seu melhor.

 

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