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Globo não deveria ter aceito fazer entrevista com Dilma do Alvorada

Reinaldo, Dilma concedeu ontem entrevista ao Jornal Nacional, um dia antes do início do horário eleitoral gratuito, que começa hoje. O que você achou?

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Não vou analisar aqui a fala da candidata porque entendi, segundo seus próprios pressupostos, que quem concedeu a entrevista foi a presidente da República. Aliás, só isso explica o fato de que ela gozou de um privilégio que aos demais não foi concedido porque nem haveria como: falou na biblioteca do Palácio da Alvorada, não no estúdio do “Jornal Nacional”, a exemplo dos demais.

Entendo que a Globo não deveria ter ou aceitado a exigência ou oferecido o benefício. Benefício? À diferença de Aécio Neves e Eduardo Campos, Dilma estava em território conhecido; os outros não. Há mais: se era a candidata que falava, então havia o uso claro de um aparelho público em benefício da campanha.

Não que a entrevista tenha sido chapa branca. Não foi, não. Houve honestidade jornalística. Mas, em certo momento, houve mais dureza do que objetividade. Observação lateral antes que continua: não me venham com a cascata de que o Alvorada é a casa de Dilma, e por isso a entrevista foi concedida lá. Por esse critério, Campos e Aécio deveriam ter recebido os jornalistas, então, em suas respectivas residências. Ou bem Dilma fala como candidata ou bem fala como presidente. Como um híbrido, é que não dá. Até a luz que se via ali era pública, ora. Sigamos.

O ponto da entrevista mais escandalosamente significativo foi aquele em que Dilma se negou a censurar o seu partido por ter defendido os mensaleiros. Mais do que isso: lendo a transcrição de sua fala, a gente percebe que ela não criticou nem mesmo os criminosos. Bonner foi incisivo:

“O seu partido teve um grupo de elite de pessoas corruptas, comprovadamente corruptas. E tratou esses condenados por corrupção como guerreiros, como vítimas, como pessoas que não mereciam esse tratamento, vítimas de injustiça. A pergunta que eu lhe faço: isso não é ser condescendente com a corrupção, candidata?”.

Observem que Bonner a chamou por aquilo que ela era naquele momento: “candidata”. E o que ela respondeu? Isto:

“Eu vou te falar uma coisa, Bonner. Eu sou presidente da República. Eu não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal, por um motivo muito simples: Porque a Constituição, ela exige que o presidente da República, como exige dos demais chefes de Poder, que nós respeitemos e consideremos a importância da autonomia dos outros órgãos.”

Acontece que os jornalistas a indagavam sobre o comportamento do partido, não do Supremo. Bonner insistiu duas outras vezes que eles haviam feito uma indagação sobre o partido. Ela não mudou a resposta. Faltou ao editor-chefe do Jornal Nacional deixar claro que a pergunta era dirigida à candidata, não à presidente. Isso não foi dito.

Na prática, entre os corruptos punidos e o Supremo que os puniu, Dilma preferiu decretar um empate, embora saibamos que ela não teria autonomia para criticar os criminosos ainda que quisesse.

A presidente se enrolou na pergunta sobre a saúde, mas não sei se o telespectador percebeu desse modo. Os entrevistadores fizeram uma síntese das calamidades da área e lembraram que o partido está há 12 anos no poder. A presidente, então, acionou a tecla do programa “Mais Médicos” para demonstrar como seu governo é operoso, embora tenha dito, num dado momento, que a saúde não é “minimamente razoável”. Pois é. Não é minimamente razoável depois de 12 anos de poder petista.

É nessa hora que faltou um tanto de objetividade, números mesmo: entre 2002 e 2013, houve uma redução de 15% na taxa de leitos hospitalares (públicos e privados) por mil habitantes. Entre 2005 e 2012, o SUS perdeu mais de 41 mil leitos. Isso quer dizer que os hospitais privados pediram seu descredenciamento porque não conseguem conviver com a tabela miserável paga pelo sistema.

Hoje começa o horário eleitoral gratuito. Em razão de uma legislação indecente, que não vem de hoje – é evidente -, Dilma terá mais de 11 minutos, quase o triplo de Aécio, que vem logo a seguir, com mais de quatro minutos. O PSB terá pouco mais de 2 minutos. Dilma poderá falar, então, à vontade, sem ser contraditada por ninguém. É nessas horas que dá o seu melhor.

 

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