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Jornalismo pegou o caminho mais fácil ao caricaturar Trump e seus eleitores

Donald Trump EFE

Para usar uma expressão de uma ex-presidente brasileira, não estou anunciando notícias bombásticas quando digo que a imprensa americana ficou estarrecida com a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais. Na sua maioria, a imprensa ficou estarrecida por não gostar dele e por não ter vislumbrado o desfecho.

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Nenhuma surpresa que sejam dias de salgada autocrítica, em particular para a matriarca da imprensa tradicional, o New York Times. E algo emblemático na penosa tarefa de reflexão foi o texto dominical de Liz Spayd. Ela é a editora pública do jornal, falando pelos leitores.

A editora pública escreve que um grupo de dez amigas da cidade de Charlotte, no estado da Carolina do Norte, têm uma mensagem para o New York Times. Elas são mulheres na faixa dos 50 anos, todas brancas, com diploma universitário e vida profissional bem sucedida.

E atenção: elas votaram em Donald Trump e não se consideram racistas, homofóbicas e islamofóbicas. Lamentam que devido à obsessão do jornal com os partidários mais extremistas de Trump, a maioria das pessoas acha que estas cinquentonas sejam o que existe de pior.

Nos comícios eleitorais e nos seus tuítes (mesmo agora como presidente-eleito), Donald Trump dispara de forma virulenta contra o mais importante jornal do mundo e mente que esteja perdendo leitores devido à sua cobertura.

As mentiras de Trump não devem ofuscar um problema grave apontado pela editora pública. O jornal e outras publicações pegaram o caminho fácil de caricaturar Trump, assim como muitos dos seus eleitores.

Mesmo partidários de Hillary Clinton estão escrevendo ao jornal, cobrando uma cobertura mais sutil dos acontecimentos. Ironicamente, leitores mais à esquerda, que apoiaram Bernie Sanders nas primárias democratas, tambem reclamam da torcida do jornal por Hillary (isto mais nos editoriais e páginas de opinião).

Eu pessoalmente acredito que o New York Times terá um papel de muito responsabilidade como guardião dos valores da democracia liberal e das benesses de uma sociedade aberta, globalizante e cosmopolita nestes tempos de ascensão nacionalista e de pendores autoritários, unindo Trump a Vladimir Putin.

Nada isso invalida o alerta no final do texto da editora pública do New York Times. O jornal não pode ser uma mera caixa de ressonância do intelectualismo liberal, mas deve realizar uma cobertura que seja uma “reflexão honesta da realidade”.

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