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Lula e a Presidência como alternativa ao cárcere

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - EFE

Presidente eleito e reeleito, que depois elegeu e reelegeu (junto com Marcelo Odebrecht) Dilma Rousseff, Lula jamais arriscaria sua reputação eleitoral – e sua carreira de palestrante – não fosse a Lava-Jato. Não houvesse tudo o que se revela contra si (e a rápida multiplicação de sua condição de réu), estaria mesmo disposto a sacrificar o PT, desprovido de opções que não ele, e deixar que o partido minguasse sem candidato ou com um haddad qualquer. Lula sabe que pode perder em 2018, que é até provável que perca; mas sabe também que sua peleja, a esta altura, é mais política, de construção de narrativa política, do que eleitoral.

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Murado pelas revelações de Léo Pinheiro – que equivalem a títulos de propriedade – e apostando em que a ameaçada delação de Palocci não passe de chantagem para que não o deixem ser o Dirceu da vez, Lula vai à luta. O reforço da agenda no Nordeste – onde apareceu vestido de Fidel Castro – é sintomático. Ele sabe que precisa, para sobreviver politicamente, apresentar-se à disputa; ser uma peça real no tabuleiro de 2018 – para acusar os adversários de golpe caso subtraído do jogo. Não é à toa que – chancelado pelo silêncio do TSE – está em campanha. Contra as especulações diárias de que será preso a qualquer momento, corre para encerar a cara de vítima, de cuja boca, se pego, desenrolará a ladainha de que as forças conservadoras não lhe permitiram se defender nas urnas.

Paralelamente à construção da narrativa de perseguido pelas elites, faz imensa fé na lentidão dos processos judiciais. Desarticulada de vez pela delação do ex-presidente da OAS, sua defesa trabalha exclusivamente por procrastinar o andamento das ações que o enredam. Se não é improvável que Lula seja condenado em primeira instância ainda neste ano, apostam os seus em que conseguirá chegar ao período eleitoral sem condenação em segunda instância – aquela que o impediria de se candidatar. É minha aposta também.

Uma vez formalmente candidato, chefe de um projeto de poder sem precedentes, que capturou o Estado para os interesses político-econômicos de um partido, será, portanto, o maior beneficiário do discurso corrente que iguala crimes e criminosos – e não terá dificuldade em reunir seus tradicionais 25%, talvez até 30%, capazes de o colocarem no segundo turno. Não é posição de alguém a ser subestimado. Dificilmente, contudo, irá além. É fortemente rejeitado – indicativo de pouca força para aglutinar.

Se, porém, voltar à Presidência, será a primeira vez na história deste país que o mais alto cargo da República foi conquistado como alternativa ao cárcere.

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