Maduro redobra gestos autoritários e joga venezuelanos na vala
Sempre atento ao atroz cenário da Venezuela, o jornal espanhol El País estampou a seguinte manchete esta semana: O chavismo se entrincheira na Venezuela”. Faço um reparo: metáforas ao estilo “trincheiras” são equivocadas, pois podem dar uma conotação até de nobre resistência. Em se tratando de chavismo, metáforas mais apropriadas são cavar o buraco, o fosso, a vala.
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Não que o El País expresse qualquer solidariedade a algum tipo de nobre resistência chavista. Pelo contrário. O início do texto revela o tamanho do buraco, do fosso, da vala. Alerta que o presidente Nicolás Maduro “redobra os gestos autoritários, desde a repressão até a suspensão de eleições, como resposta à falta de produtos básicos e a uma inflação desenfreada”.
O regime sabe que 2017 será um ano ainda mais medonho para ele do que 2016 (para a população, nem se fala). A culpa pela derrocada obviamente é atribuída a uma guerra econômica empreendida pelo imperialismo ianque. Ate aí nada de novo. A novidade é que agora o regime começa a sentir intensamente a perda de dois pilares fundamentais do autodenominado bolivarianismo desde que conquistou o poder em 1998: a habilidade para ganhar eleições e um cenário internacional propício (preços do petróleo).
Com isso, o regime segue um roteiro familiar, reproduzindo velhos gestos do autoritarismo, como o aumento da repressão e a suspensão de eleições. Primeiro, foram as trapaças para impedir o referendo revogatório sobre Maduro e em seguida para a realização de eleições para prefeito e governador.
Para dar uma medida do cerco, no Carnaval a inteligência militar deteve o professor de Economia, Santiago Guevara, pela publicação de artigos na imprensa sobre cenários de transição política. Sob custódia de tribunal militar, ele está sendo acusado de traição à pátria. E estão sendo adotados novos mecanismos de controle social, convertendo os Comitês Locais de Abastecimento em células da tal revolução bolivariana. Tradução: quer comer? Seja um militante chavista.
E, finalmente, com tecnologia do aliado chinês, o regime implanta um sistema de controle digital, o “carnê da pátria”. Trata-se de um banco de dados que permitirá o cruzamento de todas as informações pessoais, bancárias e de inscrição nos programas sociais oficiais dos usuários.
Se somarmos a este aparato 1984, o aperfeiçoamento de um sistema de monitoramento eletrônico, também com know-how chinês, para supostamente combater o crime comum, podemos concluir que todos os venezuelanos estão na vala comum.
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