Marina Silva atropela Dilma Rousseff durante debate; entenda

  • Por Jovem Pan
  • 02/09/2014 11h04
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Reinaldo, qual é o saldo do debate desta segunda entre os candidatos à presidente, promovido pela Jovem Pan, Folha, UOL e SBT?

Uma Marina Silva que se consolidou como alternativa aos olhos do eleitorado e que cresceu, como presidenciável, atropelando Dilma Rousseff, que teve, de muito longe, o pior desempenho entre os três principais candidatos. O tucano Aécio Neves se saiu muito bem. Respondeu, como de hábito, com clareza e desenvoltura. Demonstrou conhecimento de causa e segurança. Mas, como afirmei ontem no Programa “Os Pingos nos Is”, as circunstâncias não o transformaram em um dos polos do debate, que caminhou para o confronto entre Marina, ora no PSB, e Dilma, do PT. A candidata à reeleição perdeu feio o embate. Os petistas estão completamente desorientados.

Como nunca, o PT tem sido vítima de sua natureza. Se não conseguir sair da encalacrada em que está, perdeu a eleição. Os petistas só sabem fazer campanha presidencial contra, nunca a favor. A de 1989 se organizou na oposição a José Sarney e Fenando Collor, hoje seus queridos aliados. Em 1994, passa a ser vítima da ideia fixa: atacar os tucanos. Perdeu dois pleitos consecutivos no primeiro turno no ataque ao Plano Real, às privatizações e à Lei de Responsabilidade Fiscal. Em 2002, mudou de rumo: passou a falar uma linguagem propositiva e se tornou monopolista da esperança e da mudança ― um discurso que hoje, tudo bem pensado, serve a Marina Silva.

Muito bem. Eleito presidente, Lula resolveu governar com os marcos macroeconômicos herdados do PSDB ― não adianta disfarçar ―, mas deu início à demonização do adversário. Com impressionante vigarice, o PT se portava como “oposição”, embora fosse governo, embora fosse situação, embora estivesse no controle do estado. Exercitou, no limite do possível, o discurso do ressentimento, do ódio e da perseguição aos adversários. Queria, em suma, ser o senhor ― e era ―, mas com o poder das vítimas.

Enquanto as circunstâncias econômicas foram favoráveis à construção dessa farsa, surfou na onda. Acreditem: os petistas já não contavam mais ― e não contam ainda ― com a possibilidade de deixar o poder. Há pouco mais de um ano e meio, falavam abertamente na reeleição de Dilma no primeiro turno e depois em mais oito anos de Lula. Tudo assim, com desassombro, sem combinar antes com a história e com o imponderável.

Para isso, no entanto, sempre dependeu de um inimigo de estimação: o PSDB. O partido era sua antivitrine, seu exemplo de elite pernóstica e insensível aos reclamos do povo. Os braços de aluguel do partido na subimprensa e na imprensa ainda insistem nessa cascata. Mas eis que surge uma Marina no meio do caminho, oriunda justamente do ninho petista. Também sabe fazer o discurso dos “Silva”; também sabe desempenhar o papel da “vítima triunfante”; também é especialista na “demonização do outro”, embora tenha uma fala menos rascante do que a de Lula, embora se expresse com mais fluência ― o que não quer dizer clareza ―, embora pareça a pura expressão da mansidão.

E eis que vemos um PT sem resposta, a dar tiros no próprio pé. No debate desta segunda, Dilma tentou encurralar Marina, mas perdeu todas. Mesmo quando atacava, estava na defensiva. A petista só se esmerou no jogo bruto, beirando a grosseria, contra Aécio.

Depois do debate, Dilma se reuniu com seu núcleo duro de campanha ― incluindo o marqueteiro João Santana e o ministro Aloizio Mercadante ― e com Lula. Foi, certamente, uma reunião para lamber as feridas do dia. Marina foi a vencedora da noite, e Dilma, a grande derrotada. Os petistas vivem o dilema expresso pelo asno de Buridan, aquele que pode morrer de fome e de sede, incapaz de decidir entre a água e a alfafa. Se bate em Marina, teme se esborrachar com a rejeição do eleitorado, que vê na ex-senadora a magricela pobrezinha do seringal, que se esforçou e se tornou uma figura mundialmente conhecida. Se não bate, a magriça se agiganta e engole a máquina petista nem que seja com um trocadilho, no que ela é boa. Nesta segunda, mandou ver em mais um: “Não sou nem pessimista nem otimista, sou persistente”. O que quer dizer? Nada. Enquanto isso, Dilma, coitada, se enrolava em números e siglas, com a cara feia, visivelmente contrariada.

Pela primeira vez, desde 2002, as circunstâncias atuam contra a ideia fixa do PT. E o partido não sabe o que fazer. Desta vez, nem o Santo Lula pode ajudar. Encontrou uma Silva que sabe ser ainda mais coitadinha e mais orgulhosa do que ele próprio. Como colar nela a pecha de candidata da Dona Zelite, né, Lula?

 

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