No sábado, antes de virem a público as duas pesquisas Datafolha — uma apontando o aumento na avaliação negativa do governo Temer, e outra, a recuperação do prestígio eleitoral de Lula —, escrevi que a barafunda em curso no país acabaria por beneficiar as esquerdas. Título do post: “O diabo no comando. E o que ameaça a democracia brasileira”.
Lê-se lá o seguinte: “Poucos se dão conta — e os dias futuros, nos primeiros meses de 2017, deixarão claro ser assim — que as esquerdas, e o PT em particular, estão prestes a assumir um lugar privilegiado na narrativa. A esta altura, resta bastante arranhada a tese, QUE É A CORRETA, de que a corrupção e a propina eram instrumentos a que recorria o PT para fazer algo mais do que roubar: era um assalto ao estado, inclusive ao estado de direito.
“Essa constatação foi perdendo força, sendo substituída pela evidência factual de que, afinal, todos os partidos fazem a mesma coisa. Ocorre que essa obviedade toma os meios como se fosse um fim. Roubar e trapacear como meio será ruim em qualquer tempo, e seus protagonistas devem ser punidos. Mas perder de vista a natureza da tramoia petista é falsear a história e abrir uma vereda para o PT se igualar a outras legendas entre os escombros. Se é assim, o partido é apenas um entre seus pares.”
Palavras, como a gente pode ver, premonitórias, mas de premonição que já tem certo tempo.
Dado o ambiente de terra arrasada que assumiu a Lava Jato, com todo mundo enfiado no mesmo saco de gatos pardos; dado esse clima verdadeiramente policialesco contra o Congresso e contra o processo político, sem matizes, esperavam o quê? Eu temia justamente isso que está aí.
“Ah, mas e a eleição de outubro, com o PT sendo moído?” Pois é… Acreditem: na velocidade em que vão as coisas, outubro também já ficou longe.
Ou os atores políticos começam a se dar conta de seu papel institucional, ou viveremos dias muito difíceis.
É claro que a pesquisa desta segunda reforçará o discurso do PT de que, no fim das contas, os processos contra Lula buscam apenas tirá-lo do jogo eleitoral. Isso é tão verdadeiro como nota de R$ 3. Ocorre que, até havia pouco, era, além de falso, inverossímil. Continua uma mentira, mas, desta feita, verossímil.
Impressiona a marcha da irresponsabilidade que está em curso.
Hoje, os que se querem os inimigos mais ferozes de Lula e do PT estão pavimentando o caminho da sua recuperação…
“Ah, mas contamos com Sergio Moro para prender o homem…”
Pode até ser…
Mas acreditem: quando a polícia resolve um problema da política, então o problema não está resolvido.
Venho alertando para essa possibilidade há muito tempo, não é? E tomando porrada de todo lado.
Como eu queria demonstrar, a coisa está aí.
Ou somos corajosos o bastante para ser prudentes, ou se beneficiam as forças que sabem andar no caos. E não somos nós, os decentes, a ter essa habilidade, certo?
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