Pingo Final: Comprar deputados pode ser fácil; duro vai ser comprar o povo com inflação de 10% e recessão de quase 3,5%

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 10/11/2015 11h07
BRASÍLIA, DF, 29-10-2015: DILMA-DF - A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de entrega de unidades habitacionais em Paranoá, no Distrito Federal, nesta quinta-feira. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) Pedro Ladeira/Folhapress Presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de entrega de unidades habitacionais em Paranoá

Comprar deputados para que se posicionem contra um eventual processo de impeachment até que é relativamente fácil. Mais difícil será certamente a presidente da República comprar o povo brasileiro. A permanência de Dilma no cargo, creio, depende menos de Eduardo Cunha do que da economia — e os números não são nada bons. Até porque, vamos ser claros, a denúncia da oposição, ainda que rejeitada, pode não ser a última.

O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira traz expectativas devastadoras para a economia, e o governo sabe disso. Neste 2015, os economistas consultados, na média das expectativas, contam com uma inflação de, atenção!, 9,99%.

Também aumentou a previsão da recessão, que passou de 3,05% para 3,1%. Se esse dado é ruim, o do ano que vem é verdadeiramente assustador: em uma mísera semana, a previsão de encolhimento da economia para 2016 saltou de 1,51% para 1,9%. Também a antevisão da inflação deu uma disparada: de 6,29% para 6,47%. Para lembrar: O teto da meta é de 6,5%.

Nós vimos o que um ano de recessão pra valer está fazendo com a reputação da presidente. Ela certamente não conseguiria hoje andar nas ruas. Digamos que permaneça no cargo e projetemos a situação lá para meados do ano que vem. Sempre lembrando que o governo precisa, desesperadamente, e para breve, tentar aprovar a CPMF, por exemplo, ou começará a faltar dinheiro até para os programas considerados intocáveis.

Os jornalistas tendemos, em nossas análises, a excluir o povo. É bom começar a colocá-lo na equação. Fica parecendo que o problema do Brasil se resume ao cinturão de truques que Cunha eventualmente tenha contra Dilma, que Dilma eventualmente tenha contra Cunha, como se a realidade se esgotasse nas dissensões existentes na inexpugnável Casa Grande.

Não é assim, não! Os petistas já não conseguem andar nas ruas ou visitar restaurantes — e vocês sabem que não apoio manifestações hostis de nenhuma natureza — porque o governo está empobrecendo as pessoas, que é o que acontece quando se tem recessão. Uns poucos, bem poucos, ganham. A quase totalidade das pessoas sai perdendo.

Essa negociação certamente será mais difícil. Não basta o PT mobilizar meia-dúzia de feticidas, juntar com supostos sem-teto em companhia de sem-terras virtuais e levantar bandeirolas contra o ajuste fiscal.

A turma do nariz marrom, que se finge de nariz vermelho, já não engana mais ninguém. Se Dilma está achando que vai ter de enfrentar os puxa-sacos de extrema esquerda, está enganada. Ela terá de ter uma explicações para outros extremistas: os decentes que trabalham, que estudam, que não vivem pendurados nas tetas oficiais.

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