Pingo Final: Nome da operação é impróprio; em certa medida, Cunha está mais para Cícero do que para Catilina

  • Por Reinaldo Azevedo/ Jovem Pan
  • 16/12/2015 11h28
  • BlueSky
Montagem com Domínio Público e Pedro Ladeira/Folhapress Cícero e Eduardo Cunha

Em todos os lugares — e também na Wikipédia, acabei de constatar —, se faz um resumo bastante insuficiente da vida do senador romano Catilina, apresentando só como um pilantra que tentou derrubar a República por motivos pessoais.

“Catilinárias” é o nome que recebeu a série de quatro discursos que  Cícero proferiu contra Catilina no ano de 63 a.C.

Mas Catilina era um pouco mais do que um patrício arruinado que punha em risco a República para cuidar apenas de seus interesses. Ao escolher esse nome para a nova fase da operação, é evidente que a Lava Jato deixa claro que o alvo principal é Eduardo Cunha. Da mesma sorte, há aí uma apreciação crítica do trabalho do deputado.

Sabem o que está profundamente errado aí?  Cunha está mais para Cícero do que para Catilina. Refiro-me, no caso, ao padrão ideológico.

Cícero era um conservador brilhante e um inimigo, para colocar em termos contemporâneos, de populistas à moda Catilina, que vivia vociferando contra os ricos, contra, ora vejam, a “Dona Zelite”. E que partiu para a luta armada.

Não por acaso, o brilhante orador se opôs também a César. Se não participou do complô para matá-lo, parece que não, ajudou a criar o clima. E chegou a escrever que gostaria, sim, de ter participado.

Cícero sabia que as circunstâncias conspiravam em favor do fim da República, antevê o seu declínio, luta contra o inexorável e perde a vida por isso. Seu confronto com Marco Antônio custou caro.

Cabeça e mãos foram cortadas: o órgão que tramava e os que escreviam.

Só para registro: ainda que em dimensões estupidamente menores, sabem quem está mais para Catilina na política brasileira? Não é Eduardo Cunha, não, mas Guilherme Boulos: pertence à elite, usa causa pública em benefício de seus interesses (ainda que sejam os ideológicos), faz discurso rancoroso contra os ricos, mobiliza seu próprio exército e adota práticas que o Código Penal define como criminosas.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.