Pingo Final: WhatsApp de Temer: quem conspira não vaza; quem vaza não conspira
Dilma Rousseff, à beira do surto e pensando até em bater à porta dos quartéis só para ouvir um “não” e, assim, alimentar a ficção do “golpe”, resolveu chamar Michel Temer, o vice, de chefe da conspiração. E insinuou, como fizeram outros no governo, que Temer vazou a mensagem de WhatsApp de caso pensado.
Bem, como sempre, desmonta-se a arquitetura mental desta senhora num piscar de frases: no caso em questão, quem vaza não conspira, e quem conspira não vaza, certo? Se era uma conspiração, vazar pra quê? Não faz sentido, a exemplo de quase tudo o que ela diz. Adiante.
Eu estou entre aqueles que vão ficar bem tristes se descobrirem que foi mesmo um vazamento e que Temer, em vez de enviar o discurso ao amigo “X”, acabou mandando para um grupo do WhatsApp. Por mim, gostaria de dar os parabéns ao autor da ideia, houvesse um.
Elio Gaspari escreveu na Folha de hoje uma coluna a respeito da fala do vice-presidente e fez uma análise inovadora — e ruim — na área da chamada interpretação de texto.
Em vez de analisar o que disse o vice, preferiu fazer digressões sobre o que ele não disse. Como o campo daquilo que alguém não diz é infinito, sobra espaço para a imaginação voar à vontade.
Como, notou Gaspari, Temer não falou a palavra “corrupção”, segue a ilação — ao gosto de Marina Silva, note-se — de que, sob um eventual governo do hoje vice, a Operação Lava Jato estaria correndo riscos.
Não estou analisando o que o colunista não disse, mas o que ele disse. Está escrito lá: “Uma coisa é o destino da doutora Dilma. Bem outra são a Lava Jato e suas subsidiárias que estão encurralando oligarcas. É insultuoso supor que uma pessoa queira defenestrar a doutora e o PT para travar a Lava Jato, mas quem quer freá-la pode achar que uma troca é boa ideia”.
Embora o volteio retórico possa confundir os ligeiros, o fato é que vai ali a suposição de que a operação correria riscos. Bem, então seria preciso dizer por quais caminhos. Ora, conhecemos os efeitos das várias tentativas do governo petista de frear a operação. Parece que não deu certo.
O suposto risco que correria a Lava Jato virou o mantra daqueles que, vendo motivos de sobra para impichar Dilma e não vendo um único para fazer o mesmo com Temer, decidem pedir a cabeça dos dois e convocar eleições, como se o país não tivesse Constituição e leis.
De resto, quem demonstrou disposição de enfiar a mão grande na Polícia Federal foi Eugênio Aragão, o buliçoso ministro da Justiça.
Chegou a hora de parar com firulas diversionistas. Dilma cometeu crime de responsabilidade e tem de ser impichada por isso. Michel Temer é o vice e vai assumir a Presidência em caso de impedimento da titular. Se, em algum momento, no exercício do cargo, ficar demonstrado que é incompatível com a função, também ele pode cair.
Para arremate, lembre-se de que, por mais conspirador que Temer fosse, como insiste Dilma, não foi ele que convidou a presidente a cometer crime de responsabilidade e a conduzir o país à beira do abismo.
Essa é uma obra que ela executou por conta própria, em parceria com seus companheiros de legenda.
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