Povo nas ruas provoca medo; entenda
Reinaldo, quer dizer que há gente com medo do povo na rua?
Há sim, quem diria, não é mesmo? Caros ouvintes, estamos diante de um momento muito especial. Um juiz do TSE – mais precisamente o seu corregedor, João Otávio de Noronha -; o procurador-geral da República, Rodrigo Janot; amplos setores da imprensa; associações de jornalistas; um partido político – no caso, o PT -; analistas os mais variados, todos decidiram se unir para atacar pessoas que estão exercendo o sagrado direito de sair às ruas e protestar de forma pacífica, ordeira, sem quebrar nada, sem atacar o patrimônio público ou privado, sem agredir ninguém.
No sábado, pelo menos 2.500 brasileiros se juntaram em São Paulo para reivindicar, o que é um direito legítimo, uma auditoria nas eleições e o impeachment de Dilma Rousseff caso se comprove que ela sabia da roubalheira em curso na Petrobras.
Nos jornais, a presença ao ato de um indivíduo pregando a intervenção militar bastou para que se atribuísse ao protesto um viés golpista. Ora, ora os ditos “black blocs” barbarizavam as cidades, agrediam o patrimônio público e privado, ameaçavam pessoas. Um cinegrafista foi morto.
Foram tratados como democratas e até como estetas. Pior: o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, confessou que se encontrou várias vezes com lideranças dos mascarados. E não se ouviu um pio da imprensa ou de jornalistas.
Enviam-me uma nota emitida pela Abraji- a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – em que se lê o seguinte:
“A Abraji repudia a incitação à violência e o assédio contra repórteres encarregados da cobertura de manifestação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff ocorrida no último sábado. Grupos insatisfeitos com o resultado das eleições presidenciais acusam de partidarismo jornalistas que fazem seu trabalho e, com essa desculpa, expõem os perfis dos assediados em redes sociais, levando-os a serem difamados e receberem ameaças de violência”.
A associação cobra providência e punições. Quero deixar claro que eu também repudio a hostilização de jornalistas. Aliás, quem entrar no arquivo do meu blog vai ver quantas vezes repudiei a violência promovida por ultra-esquerdistas contra repórteres, que eram obrigados a trabalhar sem a identificação dos veículos aos quais pertenciam. Lamento que, então, a Abraji tenha demorado tanto para emitir uma nota.
De resto, afirmar que os que se manifestam são “grupos insatisfeitos com o resultado das eleições” é um juízo de valor muito pouco digno de uma associação de jornalismo investigativo.
Lamento, ainda, que a Abraji jamais tenha se manifestado contra a rede organizada de blogs e sites, financiados por estatais, que promove campanhas as mais sórdidas contra profissionais de imprensa. Lamento que a Abraji tenha se calado quando o PT incluiu o nome de nove profissionais de comunicação numa lista negra – sim, estou lá. A organização internacional “Repórteres Sem Fronteiras” se manifestou. A Abraji e outras associações de jornalistas fizeram um silêncio sepulcral.
Cuidado com agentes provocadores. Farão de tudo para caracterizar, de agora em diante, os grupos de oposição como truculentos, fascistas, malvados, golpistas etc. Por mais que boa parte do jornalismo seja hostil a manifestações que não sejam de esquerda, jornalistas devem ser deixados em paz.
A melhor maneira que um leitor, um telespectador, um ouvinte ou internauta tem de evidenciar a sua insatisfação com o trabalho incorreto e enviesado de um jornalista é deixando de comprar o jornal ou a revista, mudando de canal ou de estação ou deixando de acessar determinada página.
Que curiosa parte da nossa “elite intelectual”, não é mesmo? Pode-se marchar neste país, em nome da liberdade de expressão, em favor da legalização do consumo de drogas e do aborto – práticas caracterizadas como crimes no Código Penal e repudiadas pela Constituição. Pessoas, no entanto, que reivindicam uma auditoria na eleição – e todos têm o direito de fazer petições – ou que defendem o impeachment de Dilma, caso se comprove que ela sabia da roubalheira na Petrobras, são caracterizadas como truculentas e marginais.
Em tempo: é certo como dois e dois são quatro que a auditoria na eleição será recusada. Se você desistir de fazer a coisa certa por isso, então já perdeu.
Ora vejam! TSE, Procuradoria-Geral da República, associações de jornalistas, imprensa, partidos políticos, intelectuais do nariz marrom. Todos, desta feita, estão contra o “povo na rua”. É a velha esquerda de sempre com medo do que chama “nova direita”, que vem a ser aquela gente insuportável que trabalha, paga impostos e enche as burras do Estado privatizado por um partido político.
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