A queda de Aécio Neves, mais uma peça do dominó macabro da política brasileira
Nesta segunda, Aécio Neves publica seu derradeiro artigo na Folha de S. Paulo
Ele, que por muito tempo usou o espaço para falar de platitudes e amenidades, e não das questões mais importantes do País, se despede com uma espécie de defesa das acusações a que responde no âmbito da Operação Patmos, quando foi afastado do cargo de senador e viu sua irmã e primo serem presos.
“Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos -o que é pior, originados de delações de criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente forjados- me trouxeram enorme tristeza”, escreveu Aécio. “Tenho me dedicado a tentar construir um país melhor. Neste último ano empenhei-me em ajudar o presidente Michel Temer no árduo trabalho de reerguer o país”.
Aécio diz que foi vítima de gravações “covardemente feitas”. Ele lamenta ter agido de “boa-fé” e diz que não sabia estar diante de um “criminoso sem escrúpulos”. Afirma não ter cometido nenhum crime.
“Errei mais ainda, e isso me corrói as vísceras, em pedir que minha irmã se encontrasse com esse cidadão”, diz ainda
A única parte em que eu acredito do artigo é aquele em que ele diz que se condói de ver a irmã presa. O resto não para em pé.
Vê-se nos áudios o senador tomando a iniciativa de todas as conversas, e não o sr. Joesley Batista, diferentemente até da conversa com o presidente em que o dono da JBS é mais proativo.
O Aécio vai enfileirando crimes em alta rotação: diz que está tentando obstruir a Lava Jato, negocia o dinheiro, diz que vai mandar o primo, fala em linguagem de altíssimo calão, faz piada absurda, dizendo que precisa mandar alguém que você possa “matar” antes de fazer uma delação.
A quantidade de crime não cabe em duas mãos cheias.
É totalmente inaceitável e inverossímil esse artigo. O jornal faz bem em retirar-lhe esse espaço pois é dedicado à opinião e não de defesa de acusado de um crime.
Aécio Neves quase foi presidente da República. Ele vem de uma família tradicional de políticos, do avô Tancredo, a quem ele gosta tanto de citar. Aécio teve pelo menos o bom senso de não citar o avô nesse artigo lamentável e melancólico de despedido, uma peça lamentável de despedida de um homem público.
Na série chamada Black Mirror, que lida com as bizarrices do mundo moderno e tecnológico, há um episódio chamado “Shut Up and Dance”, que mostra um garoto flagrado em um ato típico da adolescência. Daí ele passa a ser chantageado e comete crimes cada vez mais graves.
Lembra muito a situação de Aécio Neves. No começo, ele era acusado de crimes menores na Lava Jato. Diante disso, desesperado, passou a correr atrás de sustar a operação, acionar todos da República, interferir no governo e cometer crimes cada vez mais pesados para encobrir os crimes originais.
Aécio foi se perdendo e perdendo sua dimensão pública.
Hoje em dia, infelizmente o Brasil vê cada um de seus líderes surgidos nos últimos anos com algum potencial de assumir funções importantes na República caindo como um dominó macabro da política brasileira.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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