A queda de Aécio Neves, mais uma peça do dominó macabro da política brasileira

  • Por Jovem Pan
  • 22/05/2017 15h14
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EFE/Mario Cruz Aécio Neves EFE

Nesta segunda, Aécio Neves publica seu derradeiro artigo na Folha de S. Paulo

Ele, que por muito tempo usou o espaço para falar de platitudes e amenidades, e não das questões mais importantes do País, se despede com uma espécie de defesa das acusações a que responde no âmbito da Operação Patmos, quando foi afastado do cargo de senador e viu sua irmã e primo serem presos.

“Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos -o que é pior, originados de delações de criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente forjados- me trouxeram enorme tristeza”, escreveu Aécio. “Tenho me dedicado a tentar construir um país melhor. Neste último ano empenhei-me em ajudar o presidente Michel Temer no árduo trabalho de reerguer o país”.

Aécio diz que foi vítima de gravações “covardemente feitas”. Ele lamenta ter agido de “boa-fé” e diz que não sabia estar diante de um “criminoso sem escrúpulos”. Afirma não ter cometido nenhum crime.

“Errei mais ainda, e isso me corrói as vísceras, em pedir que minha irmã se encontrasse com esse cidadão”, diz ainda

A única parte em que eu acredito do artigo é aquele em que ele diz que se condói de ver a irmã presa. O resto não para em pé.

Vê-se nos áudios o senador tomando a iniciativa de todas as conversas, e não o sr. Joesley Batista, diferentemente até da conversa com o presidente em que o dono da JBS é mais proativo.

O Aécio vai enfileirando crimes em alta rotação: diz que está tentando obstruir a Lava Jato, negocia o dinheiro, diz que vai mandar o primo, fala em linguagem de altíssimo calão, faz piada absurda, dizendo que precisa mandar alguém que você possa “matar” antes de fazer uma delação.

A quantidade de crime não cabe em duas mãos cheias.

É totalmente inaceitável e inverossímil esse artigo. O jornal faz bem em retirar-lhe esse espaço pois é dedicado à opinião e não de defesa de acusado de um crime.

Aécio Neves quase foi presidente da República. Ele vem de uma família tradicional de políticos, do avô Tancredo, a quem ele gosta tanto de citar. Aécio teve pelo menos o bom senso de não citar o avô nesse artigo lamentável e melancólico de despedido, uma peça lamentável de despedida de um homem público.

Na série chamada Black Mirror, que lida com as bizarrices do mundo moderno e tecnológico, há um episódio chamado “Shut Up and Dance”, que mostra um garoto flagrado em um ato típico da adolescência. Daí ele passa a ser chantageado e comete crimes cada vez mais graves.

Lembra muito a situação de Aécio Neves. No começo, ele era acusado de crimes menores na Lava Jato. Diante disso, desesperado, passou a correr atrás de sustar a operação, acionar todos da República, interferir no governo e cometer crimes cada vez mais pesados para encobrir os crimes originais.

Aécio foi se perdendo e perdendo sua dimensão pública.

Hoje em dia, infelizmente o Brasil vê cada um de seus líderes surgidos nos últimos anos com algum potencial de assumir funções importantes na República caindo como um dominó macabro da política brasileira.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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