Segundo aponta MPF, esquema de Cabral era coisa de bandido de história em quadrinhos
Em sendo como diz o Ministério Público Federal, a bandidagem de que Sérgio Cabral seria o centro ou cérebro é coisa de homens maus de história em quadrinhos, de fábula infantil. Tudo isso somado, claro!, àquela agradável vida festeira.
A ação desta quinta teve origem nas investigações da Operação Saqueador, que prendeu o empresário Fernando Cavendish, e nas colaborações de executivos da Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia.
As apurações apontam para a prática de corrupção na contratação de diversas obras conduzidas no governo Cabral — entre elas, a reforma do Maracanã para receber a Copa de 2014; o denominado PAC Favelas e o Arco Metropolitano, tudo parcialmente financiado ou custeado com recursos federais. Cada uma delas estava estimada em R$ 1 bilhão.
Segundo as investigações, Cabral cobrava 5% do valor total para si e 1% para colaboradores. “Em patamar preliminar”, segundo as investigações, a propina paga foi de R$ 224 milhões. Somente o ex-governador teria embolsado cerca de R$ 40 milhões.
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De acordo com delações premiadas de executivos da Carioca Engenharia e da Andrade Gutierrez, o esquema funcionava da seguinte maneira. Em troca de contratos milionários para tocar obras no Estado, o peemedebista teria recebido, em seu segundo mandato, entre 2010 e 2014, R$ 500 mil de mesada da Carioca Engenharia. No primeiro, entre 2007 e 2010, esse valor seria de 200 mil.
Já a Andrade Gutierrez arcaria com uma mesada um pouco mais modesta: R$ 350 mil. As investigações descobriram também como a organização criminosa chamava a propina. Segundo eles, o dinheiro sujo era tratado como “oxigênio”.
Dizer o quê? O Maracanã já era um símbolo de uma paixão nacional e das justas esperanças de parcela considerável da população antes de Cabral vir ao mundo. A Copa foi vendida aos brasileiros como o emblema de um país que teria chegado a um patamar inédito de respeito e de reconhecimento internacional.
O chamado PAC Favela remete àquele que é o pior e mais grave problema do Rio: a precariedade da moradia de milhões de pessoas, o que faz com que a cidade seja muito menos maravilhosa do que se alardeia
O Arco Metropolitano, destinado a ser a principal obra viária do Estado do Rio, virou uma coleção de atrapalhações e de descaso.
O roubo, em qualquer modalidade, é coisa condenável. Mas é evidente que o ato criminoso pode se revestir de especial perversidade quando se constata, de maneira nítida, que se está tirando dinheiro diretamente dos pobres, daqueles que já têm tão pouco.
Não se rouba apenas grana. Não se rouba apenas institucionalidade. Rouba-se também um pouco de esperança dos que já não contam com quase nada.
O nome pela qual a propina era conhecida — segundo o MPF — é outro mimo da perversidade: “oxigênio”. O oxigênio que condenava a população do Rio ao sufoco.
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