Será que baixou o espírito de Guido Mantega no Ministério da Fazenda
Quem está no comando da economia? Com a chegada de Joaquim Levy à Fazenda, esperava-se que tivessem chegado ao fim os tais “incentivos” do governo à indústria, política que ele mesmo considerou em passado recente desastrada. Eis que, para, oficialmente ao menos, minorar os efeitos da recessão, o governo decidiu conceder uma linha de empréstimos da CEF a alguns setores. O compromisso para ter acesso ao dinheiro é não demitir ninguém por certo período.
Só a CEF vai liberar R$ 5 bilhões, a juros subsidiados, para a cadeia produtiva do setor automobilístico. Nesta quarta, o Banco do Brasil vai anunciar o seu pacote. Será um golpe de “manteguismo” em plena era Levy. Alguém dirá: “Vai deixar a indústria morrer?”. A pergunta é outra: “Isso vai adiantar?”. Bem, vejam no que resultou esse modelo de intervenção. Devem ser ainda contemplados os setores de celulose, eletroeletrônicos e construção civil.
O problema não está, em si, em ajudar ou não, mas na coerência das escolhas. No momento em que o governo busca desesperadamente apoio na sociedade, inclusive o dos empresários, é evidente que isso surge como uma espécie de moeda de troca.
Mas isso ainda é de menos. Os juros no país estão a 14,25% ao ano. O objetivo claro é dar um tranco na demanda para forçar a inflação a cair. Ela se disseminou e disseminada ainda está, e seu epicentro são os preços administrados. O país terá uma recessão neste ano da ordem de 2% e já se considera certo que encolha também no ano que vem.
Dado esse quadro, vai se compensar a indústria com juros subsidiados para minorar os efeitos da recessão em certos setores, enquanto a economia como um todo sofre os efeitos das escolhas oficiais? Sem o dinheiro falsamente barato do BNDES e com a falência da política de desonerações, o governo decidiu queimar parte da saúde de dois bancos oficiais para ver se consegue atravessar o deserto.
Não se trata de ser contra ou a favor empréstimos a juros subsidiados para o setor A ou B. A questão é saber se a medida faz sentido no conjunto das escolhas feitas pelo governo. E, obviamente, não faz. Só estamos diante de uma ação ditada pelo desespero de uma presidente em busca de apoio.
Eis aí uma das faces perversas de um governo sem credibilidade, que busca se segurar a qualquer custo.
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