Constantino: Lava Jato é ‘patrimônio nacional’ cujo fim, mesmo que esperado, causa tristeza

Integração da força-tarefa com o Gaeco, anunciada nesta quarta-feira, 3, pelo Ministério Público Federal, foi tema de debate entre os comentaristas do programa ‘3 em 1’

  • Por Jovem Pan
  • 03/02/2021 18h44 - Atualizado em 03/02/2021 19h30
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Eduardo Matysiak/Estadão Conteúdo Operação foi criada em 2014

O Ministério Público Federal informou nesta quarta-feira, 3, que a força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná passou a integrar o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Com isso, a força tarefa, que atuou por quase sete anos, deixa de existir. Desde sua criação, em 2014, a Lava Jato teve 79 fases, 1.450 mandados de busca e apreensão, 211 conduções coercitivas, 132 mandados de prisão preventiva e 163 de temporárias. Segundo o MPF, a continuidade de alguns dos trabalhos da operação se dará no Gaeco. Com o fim da força-tarefa, a operação passa a ser evidenciada por outro motivo: em março de 2016, enquanto o ex-presidente Lula era levado para depor coercitivamente à Polícia Federal no aeroporto em Congonhas, seu apartamento em São Bernardo do Campo e um sítio em Atibaia foram alvos de mandados de busca e apreensão. Nessas buscas, procuradores que integravam a força-tarefa de Curitiba acompanhavam os desdobramentos da operação e trocavam mensagens que iam de piadas contra o ex-presidente até elogios à procuradora Raquel Dodge. O fim da Lava Jato foi tema de debate entre os comentaristas do programa “3 em 1”, da Jovem Pan, nesta quarta.

Rodrigo Constantino diz que, mesmo esperado, o fim da Lava Jato é visto com tristeza por ele, que considera a operação um “patrimônio nacional”. O mais importante para mim não é a Lava Jato como operação, como força-tarefa, continuar. O mais importante para mim é esse simbolismo [do combate à corrupção] vingar e ser a regra daqui para frente”, pontuou. Apesar disso, ele não vê o futuro de forma positiva. “Não consigo ter o mesmo grau de otimismo em relação a esse legado quando eu penso no fato de Lula estar solto e talvez pensando em ser candidato. O Dirceu, estar solto… Quando eu vejo isso tudo me parece que foi um sonho de uma noite de verão que teve no país”, analisa. Ele também considera as indicações de Augusto Aras para a PGR e de Kássio Nunes para o STF como decepções inegáveis que trouxeram reações da base de apoio do presidente e não vê grandes problemas no conteúdo das mensagens roubadas. “Mesmo assumindo que sejam totalmente verdadeiras, o que nós temos ali é conversa de botequim, o que não pega bem do ponto de vista republicano, mas alguém vai acreditar que juízes não conversam com procuradores no corredor e que não sai uma piadinha assim ou assado? É uma brincadeira isso. É óbvio que acontece. A diferença é que o Telegram, o WhatsApp, é o corredor da era moderna”, afirmou. Para ele, o que mancha a imagem de Moro é a postura “lacradora” adotada por ele após sair do ministério da Justiça.

Para Marc de Sousa o encerramento da operação era uma morte anunciada. “Há mais de um ano a Lava Jato vinha agonizando em praça pública”, afirma. Segundo ele, um dos sinais de que a operação chegaria ao fim eram as declarações do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, desgostando da operação e evocando o “bom e velho combate à corrupção”. “A esquerda vende a ideia de que havia uma vontade dos investigadores de se eternizarem nas investigações. Isso nunca foi verdade. Eles mesmo sabiam que tinham prazos a terminar. O problema é que ficou muita coisa para apurar ainda”, afirmou. Entre as pontas soltas apontadas por Marc está a delação de Antônio Palocci. Sobre as mensagens trocadas pelos procuradores, ele frisou a forma ilegal como elas foram surrupiadas e divulgadas à imprensa. “Foram furtadas por hackers. Aliás, a história desses hackers até agora não foi explicada”, afirmou. Para ele, mesmo com a origem criminosa, o STF deve aceitar as mensagens em um complô para favorecer o ex-presidente Lula. “Está mais do que claro que legalmente tudo isso não pode ser usado como base para nada, mas não tenho dúvidas que o Supremo Tribunal Federal vai dar ‘um jeitinho’, porque ele quer reconhecer e validar tudo isso porque o objetivo central é livrar o Lula. Eles já alteraram a legislação, na segunda instância, para soltar ele da cadeia. Agora, vão aceitar essa carga roubada para que o Lula possa não ser condenado”, afirmou. Diogo Schelp também concordou que o fim da operação ocorreria mais cedo ou mais tarde e lembrou que o grosso da operação já passou. “Já são quase sete anos de Lava Jato e os casos mais complexos e com maiores valores envolvidos foram os primeiros. Não que existam irregularidades ou pessoas para serem processadas, mas os maiores esquemas já foram descobertos”, pontuou. Ele lembrou, porém, que um dos discursos de campanha de Bolsonaro foi fortalecer a operação, algo do qual ele desistiu rapidamente. “Nenhum esforço foi feito nesse sentido. O primeiro sinal disso foi a própria escolha de Augusto Aras fora da lista que havia sido enviada pelos procuradores”, criticou. Para ele, as mensagens entre os procuradores que foram hackeadas se assimilam a “conversas de boteco” e não mudam o curso da investigação. “Eu não vi nada ali que desmentisse que Lula fosse o dono de fato do sítio em Atibaia ou que as provas contra ele tinham sido adulteradas”, afirmou. O jornalista afirma que, no máximo, elas mostram os procuradores “se excedendo” na comemoração de uma operação bem sucedida.

Confira o programa “3 em 1” desta quarta-feira, 3, na íntegra:

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