‘Vacina não é vitória de governante, é vitória do sistema capitalista’, afirma Constantino
Comentarista do programa ‘3 em 1’ acredita que sistema capitalista teve papel direto na produção em tempo recorde dos imunizantes no mundo
O presidente Jair Bolsonaro participou de uma cerimônia na tarde desta quarta-feira, 10, para sancionar propostas que facilitam e aceleram a compra de vacinas contra a Covid-19 no Brasil. A primeira está relacionada ao Projeto de Lei que autoriza a União, os Estados e os municípios a assumirem as responsabilidades por eventuais efeitos colaterais da vacina. O texto também autoriza, com restrições, a compra de vacinas pelo setor privado. O segundo projeto é uma Medida Provisória que estabelece o prazo de sete dias úteis para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analise pedidos de registro emergencial de imunizantes. O terceiro projeto prorroga até dezembro de 2021 a suspensão da obrigatoriedade de cumprimento de metas quantitativas e qualitativas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Em discurso, o presidente voltou a enaltecer ações do governo para garantir a vacinação da população, garantiu que o país “faz a sua parte”. Além da pouco habitual utilização da máscara durante o evento, o pedido do filho de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) para que apoiadores espalhassem uma mensagem do presidente defendendo os imunizantes levantou suspeitas sobre a súbita mudança de tom por parte do presidente quanto à imunização. As falas do presidente foram tema de debate entre os comentaristas do programa “3 em 1”, da Jovem Pan, nesta quarta-feira, 10
Rodrigo Constantino afirmou que há uma mudança de tom nas falas de Jair Bolsonaro, mas garantiu que os brasileiros não devem conectar a responsabilidade pela fabricação dos imunizantes aos governantes. “A vacina em si não é uma vitória desse ou daquele governante. A vacina em tempo recorde no mundo, ainda mais se mostrando mesmo segura e eficaz, é uma vitória do sistema capitalista, do mercado. Basta pensar em Pfizer, basta pensar em AstraZeneca, na BioNTech, que é uma empresa que poucos conheciam e vale bilhões. Então foi feita em tempo recorde, com ajuda estatal, no caso americano por exemplo o Trump teve uma postura muito firme em relação a isso, enquanto que no Brasil, o presidente Bolsonaro ficou, de fato, com uma retórica, com uma narrativa mais cética”, afirmou. Ele reforça, porém, que é importante separar a retórica dos líderes das ações do governo, lembra que o Brasil tem feito a sua parte e hoje é o sexto país que mais vacinou no mundo. “Está sendo feito o que tem que ser feito, o presidente está mudando o discurso, mas o governo já vem agindo”, explica. Ele lembra que a politização da vacina é um problema registrado desde o início da pandemia e a classifica como algo feito por pessoas “preocupadas em lacrar”.
Amanda Klein afirmou que o presidente passou “de sabotador nacional da vacina a defensor nacional da vacina” na fala desta quarta-feira, o que, para ela, mostra que a realidade se impôs. Ela lembrou que a aparição do presidente com máscara também não é algo habitual ao longo de presenças anteriores dele em eventos públicos e questionou se isso tem alguma ligação com o discurso apaziguador feito pelo ex-presidente Lula poucas horas antes do evento. “Se tem alguma coisa a ver, ele já está passando um recibo”, disse. A jornalista também recordou de falas de Bolsonaro desacreditando os imunizantes e lembrou que a adesão dos brasileiros à vacina mostra que ele pode ter “apostado no cavalo errado”. “De alguém que sabotava a vacina, ficava o tempo inteiro questionando a segurança, dizendo que a vacina mais rápida do mundo era a de caxumba, feita em quatro anos, agora ele foi obrigado a defender as vacinas porque ele viu que a população não só aderiu, como quer se vacinar”, disse, acreditando que falta ao presidente assumir um tom de empatia às vítimas da tragédia da Covid-19 no país.
Marc Sousa concordou que a realidade se impôs ao presidente neste momento e acredita que o governo demorou a entender a importância da vacina. “Esse evento no palácio do planalto foi claramente marcado de última hora, não estava na agenda do presidente ontem à noite. Ele marcou aí para trazer novidades em relação à compra de vacinas e sancionar aí três Projetos de Lei que vêm do Congresso e que vão começar a fazer efeito a partir de agora”, afirmou. Ele alertou ao fato de que há prefeitos “desesperados” para comprar a vacina e chamou atenção à uma denúncia do jornal Estado de São Paulo, que mostra a negociação de mais de 200 municípios com uma empresa búlgara que promete entregar doses da Sputnik e da AstraZeneca, mas, segundo as farmacêuticas, não tem ligação direta com nenhuma delas.
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