CEO da Azul explica como conseguiu recontratar quase metade dos demitidos durante a crise
John Rodgerson foi convidado do programa Conselho de CEO desta terça-feira, 26, e falou sobre desafios da companhia aérea para sobreviver durante a pandemia

O convidado do programa Conselho de CEO desta terça-feira, 26, é John Rodgerson, da Azul Linhas Aéreas. O entrevistado do jornalista Carlos Sambrana, que faz parte da Azul desde a sua fundação, viu 90% das atividades da empresa serem paralisadas durante o começo da pandemia e atualmente trabalha na retomada dos voos pelo país. Hoje, com frota de 140 aeronaves, atingindo 116 destinos diferentes e afetando diretamente a vida de 14 mil famílias de trabalhadores, ele tem 85% da malha doméstica ativa e vê o turismo decolando aos poucos enquanto participa da logística de distribuição das vacinas contra a Covid-19.
Rodgerson lembra que nos momentos iniciais da pandemia, os 10% da frota que continuaram operando já estavam voltados a ajudar o país a conter a crise do novo coronavírus. “Estávamos transportando médicos, respiradores. Nós decidimos em dezembro anunciar que iríamos transportar de graça as vacinas. Qualquer vacina, por qualquer governo. Anunciamos isso antes do Natal e tivemos o prazer de começar na semana passada”, afirma. Ele lembra que o planejamento foi longo e ocorreu com a empresa de logística Azul Cargo junto ao governo. “Vamos continuar apoiando os estados e o governo federal, porque uma coisa é chegar na capital de um estado e outra coisa é chegar em todas as cidades de um estado”, analisa. Sem especificar números, o CEO afirma que o investimento para fazer esse transporte está na casa dos milhões de reais.
“Claro que eu vou ter uma receita a menos por causa disso, mas é a coisa certa a fazer e eu sou um empresário, eu sei que o mais rápido que seja distribuído e os hospitais fiquem vazios de novo é que a vida vai voltar ao normal”, lembra, afirmando que outros empresários também estão envolvidos nesta empreitada. Durante os períodos mais críticos da pandemia, sem receita e com boa parte das atividades paradas, o executivo organizou uma série de reuniões com fornecedores e sindicatos para construir um plano forte o suficiente para sobreviver aos tempos de turbulência. “O jogo da Covid para nossa indústria foi um jogo do giro. Você tem que ter certeza de que você tem giro para passar. Ninguém sabia se as pessoas iam voltar em maio, junho, julho”, recorda. Com tudo negociado, a empresa captou, no mês de novembro, R$ 1,7 bilhão de giro. Hoje, opera com R$ 4 bilhões de caixa.
Apesar das negociações e do giro de caixa, a Azul precisou demitir cerca de 2.000 funcionários com a crise causada pela pandemia. Desses, 800 foram recontratados. “Isso é uma coisa boa. Você pode falar muita coisa ruim sobre o Brasil, mas uma coisa é que a demanda está voltando aqui mais rápido do que em outras partes do mundo porque eu acho que as pessoas dependem mais da aviação aqui”, opina. Outra parte importante para a retomada da movimentação nos voos do país é o fato de que as aeronaves da Azul chegam a destinos interiorizados, não focando apenas nas grandes capitais. “Brasil é grande e o Brasil tem São Paulo, que você pode ter a maior aeronave do mundo voando em São Paulo, mas também tem cidades pequenas, como Sorriso, que requer uma aeronave diferenciada”, afirma.
Prevendo um ano com primeiro semestre ainda afetado pela pandemia, mas torcendo por um segundo semestre de volta à normalidade, o presidente da empresa vê nos brasileiros uma chance de retomada econômica com a vontade de voltar a trabalhar e conhecer novos locais. Hoje, com 720 voos diários e ocupação média de 81%, eles veem um público diferente do anterior, com mais pessoas pegando voos a lazer. “As grandes empresas ainda não voltaram, mas assim que elas voltarem acho que vai ter muito mais demanda”, afirma. Questionado sobre as possibilidades das videochamadas desenvolvidas durante a pandemia suprirem a necessidade de alguns voos a negócio, o CEO afirma ver uma nova oportunidade no desenvolvimento dessas tecnologias. “O brasileiro quer se conectar, mas a mesma tecnologia que permite você fazer uma videoconferência é a mesma tecnologia que vai permitir que você vá para o Nordeste em uma quinta-feira e possa trabalhar remotamente”, exemplifica.
Codeshare
No mês de junho, a empresa fez um codeshare, parceria com a companhia aérea Latam que permite que o cliente inicie a jornada em uma aeronave e termine na de outra empresa, tendo uma experiência singular na hora de despachar bagagem e até mesmo comprar passagens. “Isso ajuda. Tem mais aeronaves no ar, tem mais funcionários trabalhando hoje por causa desse codeshare. É benéfico. Cada vez que você dá mais opção ao cliente, é melhor”, analisa. O CEO lembra que parcerias do tipo já são realizadas com a TAP e com outras empresas internacionais. Questionado sobre a visão dessas empresas e de acionistas internacionais em relação ao Brasil, o presidente da Azul é categórico ao pedir união entre governo federal e estados brasileiros. “Vamos parar de brigar e vamos olhar para a frente. Na semana passada, mudou o posto nos Estados Unidos, e o que o novo presidente falou foi ‘vamos unir o país’. Isso é importante. Para ter uma nação forte, temos que ser uma nação unida”, explica.
Como conselho para os que seguem carreiras no empreendedorismo, Rodgerson lembrou da importância de não olhar os outros como inferiores. “Não sou um presidente de empresa aérea, sou um presidente de pessoas, então a coisa mais valiosa que tenho dentro da minha empresa são meus tripulantes, meus funcionários. Nós todos passamos por coisas tristes, tento ligar todos os dias para algum dos nossos funcionários que está com Covid, que teve alguma perda na família. O que eu diria para as pessoas é ‘fique mais perto dos outros'”, aconselha. Para ele, acreditar que funcionários entregam o melhor serviço possível em todos os voos é essencial para tornar a empresa bem sucedida.
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