Discurso de Dilma sobre Petrobras oscila entre nacionalismo tosco e delírio conspiratório

  • Por Jovem Pan
  • 07/04/2015 09h29
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Antonio Cruz/Agência Brasil Presidente Dilma Rousseff discursa durante posse do novo ministro da Educação

Reinaldo, na posse do ministro da Educação Dilma falou sobre a Petrobras, e aí?

A presidente Dilma Rousseff aproveitou a posse de Renato Janine Ribeiro no Ministério da Educação para dizer algumas sandices. Afirmou, por exemplo: “Eu tenho a certeza de que a luta pela recuperação da Petrobras, que está em curso — a luta e a recuperação —, é minha, é do meu governo, e eu tenho a certeza de que interessa a todo o povo brasileiro. O que está em jogo é a nossa soberania, o futuro do nosso país e da educação”.

E seguiu adiante:

“A fonte das riquezas que planejamos para sustentar a educação, essa fonte já está em atividade. Mais do que isso, ela vai garantir uma renda sistemática para os próximos anos”. Achando que bobagem pouca bobagem não é, complementou: “Não é coincidência que, à medida que cresce a produção do pré-sal, ressurjam ainda algumas vozes que defendem a modificação do marco regulatório que assegura ao povo brasileiro a posse de uma parte das riquezas. Nós não podemos nos iludir. O que está em disputa é a forma de exploração desse patrimônio e quem fica com a maior parte. Se é de concessão, todos os benefícios de quem extrai o petróleo ficam para quem extrai. Se é de partilha, são divididos com o estado. Daí provêm o fundo social e os royalties”.

É tal a quantidade de tolices que é preciso ir por partes. Vamos ver. Em primeiro lugar, que história é essa de que a luta pela recuperação da Petrobras é dela e de seu governo? Não! O que pertence ao legado do PT — e também de seu governo — é a maior crise da história da empresa. Dilma foi, aliás, a chefona da área nos oito anos da gestão Lula, como ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil, e, por óbvio, está na ponta do processo desde 2011, quando assumiu a Presidência.

O senador Aécio Neves (MG), que preside o PSDB, divulgou uma nota sobre a fala. Afirmou: “Chega a ser patético que a presidente da República, responsável pelas maiores perdas da Petrobras em seus 60 anos, diga que seu governo vai recuperar a empresa. A Petrobras será recuperada pela indignação dos brasileiros, que não aceitam o criminoso aparelhamento  da empresa, e pelas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. A presidente perdeu mais uma oportunidade de pedir desculpas pelo que aconteceu à Petrobras sob seus olhos”.

Mas pensemos no resto do discurso de Dilma. Lembram-se daquela conversa mole sobre ser o pré-sal o bilhete premiado? Ela recuperou esse papo furado com a história dos recursos milagrosos para a educação.

Pior: voltou a sugerir que há uma grande conspiração contra a Petrobras e que interesses escusos estariam se mobilizando para mudar o sistema de exploração do pré-sal — que, atenção!, teria mesmo de ser mudado. Dilma falta miseravelmente com a verdade ao afirmar que o país não se beneficia do modelo de concessão, vigente na exploração do petróleo nas áreas que não são do pré-sal. Sustentar que, nesse regime, “todos os benefícios ficam para quem extrai o petróleo” é nada menos do que uma mentira estúpida.

O que hoje impõe uma pesada carga à Petrobras, isto sim, é o obtuso regime de partilha imposto pelo governo Lula, mantido por Dilma. O modelo obriga a Petrobras a um desembolso de dinheiro que não tem. Na verdade, a presidente omite dos brasileiros um fato: a exploração do petróleo do pré-sal atrasou em pelo menos dois anos por causa da imposição do regime de partilha. E isso não tem mais como ser recuperado.

É muita cara de pau querer resgatar o discurso nacionalista nessa área, com a Petrobras ainda na lona, impossibilitada até de publicar o seu balanço. A quem Dilma acha que engana com essa conversa?

A presidente perdeu uma enorme chance de ficar calada. E isso prova que ela continua a não entender o sentimento que vai nas ruas.

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