Editorial – “Deus está morto, Nietzsche está morto, Marx está morto…”

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 23/06/2016 14h45
Divulgação Polícia Federal

Como se chama mesmo a mais recente fase da Operação Lava Jato, que, no entanto, se quer uma operação independente? Custo Brasil. Ela é deflagrada um dia depois de Deltan Dallagnol comparecer a uma audiência na Câmara para defender o polêmico projeto do MP com as 10 medidas de combate à corrupção. Ao longo dos dias, veremos por que polêmico. Não é esse o objeto deste texto.

No discurso que fez na Câmara, Dallagnol ensinou aos deputados que a corrupção é uma “serial killer”, que mata criancinhas, põe buracos nas estradas, leva à falta de medicamentos nos postos, aumenta a pobreza, induz aos crimes de rua. Chegou a citar a morte de uma pessoa na Bahia porque recebeu tardiamente um medicamento, com data vencida e a preço superfaturado. Faltava a moral da história, e Dallagnol deu: “A corrupção mata”.

Ou por outra: um dia depois de o coordenador da Lava-Jato dizer na Câmara que a corrupção responde pelo chamado “Custo Brasil”, é deflagrada, então, a “Custo Brasil”, que prende o peixão mais graúdo do PT até agora: Paulo Bernardo. Pode ter um papel no PT menos estruturante do que Vaccari, mas é o companheiro preso que ficou mais tempo na Esplanada dos Ministérios e serviu tanto a Lula como a Dilma.

Isso quer dizer alguma coisa?

Ah, quer dizer, sim, ora essa! A Operação Lava Jato, nas suas três faces — Ministério Público, Polícia Federal e Justiça (Sergio Moro) —, é a única força política hoje estruturada no país e que consegue atuar com elementos táticos — de curo prazo e apelo midiático — e estratégicos. Os rapazes do MP já deixaram claro que têm uma ideia na cabeça e uma caneta na mão: refundar a República. E estão avançando.

É evidente que, quando se associa o nome da nova fase ao discurso feito no dia anterior, estabelece-se um nexo entre as duas coisas. Estamos diante de um sentido.

A Lava-Jato, por seu turno, vai gerando crias, como é o caso das Operações Turbulência e Custo Brasil. A primeira atinge a campanha de Eduardo Campos-Marina Silva e o PSB. Mesmo que pescado pelo pé e ainda que, por ora ao menos, na periferia do furação, o PSDB também já foi tragado. O PMDB está com múltiplas escoriações.

Lembro-me de uma frase que citávamos muito ali pelo fim dos anos 1980, quando se falava da crise das ideologias. Há variantes. A repetida na minha turma era assim: “Deus está morto, Nietzsche está morto, Marx está morto, e eu mesmo não ando me sentindo muito bem…”. É mais ou menos esse o clima em Brasília e em toda parte.

Até outro dia, aqui e ali, alguns falavam em novas eleições… Pensem na cena, senhoras e senhores! Como indagaria Noel Rosa, “com que roupa?”. A vida, afinal, não está sopa, não é mesmo? Se o candidato não for Dallagnol, podemos considerar as hipóteses de Levi Fidelix, José Maria Eymayel, Eduardo Jorge… Luciana Genro não dá. O PSOL já é establishment demais!!!

Que tempos, né?

Como num conto de Lygia Fagundes Telles, “vivos e mortos, desertaram todos”.

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