Editorial – A Lei de Newton da luta armada

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 08/04/2016 16h42
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Brasília - O ministro da Justiça, Eugênio Aragão inaugura as sessões de trabalho das comissões de 2016, lembrando os 52 anos do golpe militar de 1964 (Wilson Dias/Agência Brasil) Wilson Dias/Agência Brasil Eugênio Aragão - AGBR

O país vive um momento de notável perda de parâmetros. Alguns valores que pareciam imunes a ataques especulativos estão sendo rifados com impressionante ligeireza. E mais chocantes são ora a complacência, ora a cumplicidade de setores da sociedade civil que deveriam constituir a vanguarda na defesa de garantias e civilidades. Refiro-me muito especialmente à imprensa. Nota: eu a critico porque a quero mais livre; as esquerdas, porque querem censurá-la.

A defesa impensada que fez a Folha da antecipação da eleição presidencial –traduzida, em editorial, na fórmula “Nem Dilma nem Temer” integra a lista das minhas insatisfações. A tese iguala desigualdades em favor do vício, não da virtude. Ou, para os mais pessimistas, em favor do mal maior, não do menor. E escolher o mal menor, quando não há saída ótima, é um imperativo ético.

Eugênio Aragão, ministro da Justiça, comete crimes de responsabilidade em penca quando classifica de compreensível a promessa que fazem grupos de esquerda de reagir com violência ao eventual impeachment de Dilma. Disse o doutor tratar-se da Lei de Newton. E filosofou: “A manifestação de absoluta rejeição a qualquer tipo de afastamento através de golpe me parece um movimento legítimo”.

Segundo o ministro, pois, para que não haja a violência “legítima”, o Congresso tem de votar a favor de Dilma. A “Lei de Newton” de Aragão torturou a agora presidente da República. É um lixo moral, ético e histórico.

Leiam a Lei 1.079. O ministro mandou às favas os incisos II, III e IV do Artigo 4º do texto: atentou contra o livre exercício do Legislativo e do Judiciário, que fez o rito do impeachment, contra direitos políticos, individuais e sociais e contra a segurança interna no país. E o que leio, ouço e vejo na imprensa vai do silêncio covarde à apologia da violência –na pena de alguns colunistas. Afinal, se os adversários são golpistas, Deus está morto.

Não atuou de modo diferente o advogado geral da União, José Eduardo Cardozo, na comissão especial do impeachment. Assegurou que um eventual governo Temer será ilegítimo. Ora, se é assim, tudo o que se fizesse de ilegal para derrubá-lo estaria justificado pela “Lei de Newton”. A propósito: que sentido faz entregar a defesa se ele diz que só um resultado é aceitável? É um pouco mais sutil do que Aragão, mas não menos doloso.

De igual modo agiu Dilma Rousseff ao abrir o Palácio do Planalto ao proselitismo e ouvir, sem sombra de reprovação, um de seus aliados a fazer terrorismo aberto: ou o Congresso se ajoelha aos pés do PT, ou ninguém governa “estepaiz”. Em peregrinação, Lula, o presidente “de facto”, promete a seus milicianos que o próximo passo será controlar a “mídia”.

Quando a Folha escreve “Nem Dilma nem Temer”, acaba, na prática, por acatar essas ameaças como instrumentos aceitáveis da luta política. Até que haja, e não há, evidências de que o vice-presidente tenha cometido crime de responsabilidade, “nem Temer” por quê? Assim como não é aceitável que as esquerdas, no poder, legitimem as ações criminosas, não se pode tolerar que deslegitimem as saídas preconizadas na Constituição.

Até porque não é o PT que justifica a existência da democracia; é a democracia que justifica a existência do PT. E, por isso, o partido tem de parar de tentar solapá-la. Ou migrar, então, para a clandestinidade.

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