Editorial: O balanço da Petrobras vale o discurso de Dilma, e o discurso de Dilma vale o balanço da Petrobras

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 28/01/2015 17h05
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Roberto Stuckert Filho/PR Dilma Rousseff tomou café da manhã com jornalistas setoristas na manhã desta segunda

Com a devida vênia, sempre achei Dilma Rousseff incompetente. Como ministra e como presidente. E sempre acrescentei a essa constatação uma outra: ela é competente em criar a fama de que é competente. Esse mal, admito, é uma espécie de marca registrada do PT. Mas, na soberana, é especialmente saliente. E, para arremate dos males, ela tem como homem forte do governo Aloizio Mercadante. Aí, meus caros, a contribuição ao erro não tem como não ser bilionária.

Eu fico cá me perguntando que espírito ruim fez com que a Petrobras divulgasse, praticamente no dia em que a presidente realiza a primeira reunião do segundo mandato, o seu balanço de mentira, o seu balanço falso, o seu balanço de vento. E com uma nota perversa: a peça de ficção veio a público na calada da noite. O principal demonstrativo daquela que já foi a maior empresa do país — antes da rapinagem petista — ganhou ares de peça clandestina. Seus subscritores se esgueiram nas sombras, como marginais.

Dilma faz o seu discurso anunciando novas auroras, e a mulher que escolheu para comandar a Petrobras, Graça Foster, lidera uma patuscada. Aqui e ali, sei lá com que base material, fala-se de um prejuízo de R$ 88 bilhões apenas. A estimativa do mercado é bem outra: de US$ 5 bilhões, valor muito subestimado, já digo por quê — a US$ 20 bilhões. Sim, de dólares. Só Abreu e Lima, o cálculo é da própria Petrobras, conta com um prejuízo irreversível de US$ 3,2 bilhões.

As ações da empresa entraram em queda livre nesta quarta. O Brasil não é a Venezuela. O Brasil tem mercado. Às 14h30, os papéis preferenciais (PN) da companhia, sem direito a voto, caíam 9,83%, para R$ 9,16 reais. Durante a manhã, chegaram a despencar 10,17%, para R$ 8,66 reais. Já as ações ordinárias (ON), com direito a voto, registravam queda de 9,44%, em R$ 8,73 reais — na mínima, chegaram a valer R$ 8,46.

Reitero: é impressionante que os dois eventos tenham se dado quase ao mesmo tempo: a reunião ministerial e a divulgação dos números da empresa. É inescapável concluir: sabem quanto vale o discurso de Dilma? O que vale o balanço da Petrobras. Sabem quanto vale o balanço da Petrobras? O que vale o discurso de Dilma.

Pergunta-se: é essa a presidente que precisa inspirar confiança dos agentes econômicos? Qual será o comportamento daqueles que deveriam apostar no Brasil? Investir no país ou se proteger do seu governo e dos irresponsáveis que hoje comandam o seu destino? Pior: a decisão de divulgar um balanço não auditado, que ignora o prejuízo, passa a informação de que, sim!, essa gente que nos governa é capaz de qualquer coisa.

Em seu discurso de ontem, Dilma citou a palavra “Petrobras” oito vezes. Destaco dois trechos: “A Petrobras já vinha passando por um rigoroso processo de aprimoramento de gestão; a realidade atual só faz reforçar nossa determinação de ampliar na Petrobras a mais eficiente estrutura de governança e controle que uma empresa estatal, ou privada já teve no Brasil”. E mais adiante: “Temos que continuar acreditando na mais brasileira das empresas, a Petrobras.”

Santo Deus! Não é possível acreditar nem no balanço da empresa! Eu me pergunto, e não estou fazendo ironia, se Dilma está bem da cabeça. O conjunto da obra, nesta terça e madrugada de quarta, pode indicar que não. Nem seria inédito. O Brasil já foi governado por um doido clínico, Delfim Moreira, entre 15 de novembro de 1918 e 28 de julho de 1919. Na prática, quem tocava o país era o ministro de Viação e Obras Públicas, Afrânio de Melo Franco. Em 2015, temos Aloizio Mercadante.

Eu poderia encerrar assim: “Que Deus tenha piedade da gente, já que o eleitor não teve”. Mas Deus, definitivamente, não tem nada com isso. Deus não corrige o voto. Só os eleitores brasileiros podem fazer isso.

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