Editorial – Que destino daremos a Lula, segundo sua retórica? Vamos crucificá-lo ou enforcá-lo? Ou o convidaremos a um tiro no peito?
O senhor Luiz Inácio Lula da Silva adora se comparar a heróis trágicos. Ao longo da sua carreira política, já associou sua própria figura à de Jesus Cristo, que foi crucificado; à de Tiradentes, que foi enforcado e esquartejado, e à de Getúlio Vargas, que se matou com um tiro no peito.
Às vezes, esse heterodoxo professor de história se confunde um pouco, como no vídeo abaixo, em que mistura a pena imposta a Cristo com aquela impingida a Tiradentes: o Apedeuta houve por bem crucificar o chamado “Mártir da Independência”. Vejam.
Essas operações mentais não deixam de ser curiosas. Sempre que alguém toma como inspiração e como exemplo de sua trajetória um herói trágico, busca ressaltar aspectos da própria personalidade que evoquem o sacrifício, o sofrimento, a renúncia, a ascese, a resiliência não-conformista, a retidão dos santos, a convicção dos visionários, o discurso parabólico dos sábios, os amanhãs sorridentes dos profetas, a terrível e solitária certeza de quem já viu o futuro.
E parece que é isso que Lula tenta ensinar a seus companheiros, num tom compungido, quase de velório, convidando-os a se conformar em perder as tetas do Estado — e das estatais — e caminhar um tempo no deserto, agora que não lhes restou nem mesmo uma mitologia e uma história do futuro. Sim, senhores!, sem uma narrativa sobre o futuro, contada desde o fim, não se constrói uma utopia.
Liberais e conservadores, por exemplo, são péssimos nesse quesito. Deixam-se intimidar pelo senso de ridículo antes que suas prefigurações juntem 10 pessoas. Tendem a dar respostas para problemas objetivos e se esquecem de apontar um caminho para a humanidade, como habitualmente fazem os esquerdistas. Seus acólitos podem não saber, se indagados a quente, quanto é nove vezes sete. Mas eles julgam conhecer toda a matemática das aspirações humanas.
Voltemos a este patético Lula. Na história Republicana, nenhuma outra agremiação política coesa e hierarquizada, como é o PT, ficou tantos anos consecutivos no poder. Máquinas partidárias do passado a exemplo da UDN, do PSD e do PTB, não obedeciam à imposições de um centro gravitacional. O PT não se organizou para administrar o Estado e, como seria de se esperar de um partido, para modernizar as suas estruturas, tendo a política como instrumento.
Fiel à tradição da esquerda, o PT se constituiu para, primeiro, cercar o Estado e depois absorvê-lo, numa espécie de fagocitose política, daí que não se distingam hoje os interesses do país daqueles que são os interesses do partido.
Daí que Lula e sua legenda nunca tenham aceitado que, uma vez conquistado o poder, pudessem perder eleições. Daí que a possibilidade de vitória do adversário nos pleitos de 2006, 2010 e 2014 não tenha sido tratada como apanágio da democracia, que prevê a alternância, mas como retrocesso.
Voltemos ao “Tiradentes crucificado” do Apedeuta. Se verdadeira, a retórica de Lula já seria ruim porque alimentada por misticismo, messianismo e vertigem visionária típicos dos malucos. Se toda política carrega um viés religioso porque, em alguma medida, é preciso apelar a um horizonte edênico, não há retórica salvacionista na história que tenha resultado em coisa que preste.
Ocorre que o discurso de Lula é tão falso quanto a crucificação de Tiradentes. O Apedeuta e seus apóstolos estão mais para os porcos de George Orwell do que para os santos. O “cara” não é do tipo que resiste no deserto às tentações do demônio. Ao contrário! Ele o chama para negociar na certeza de que pode dar um truque no rabudo. Em vez do estoicismo dos puros, que suportam a dor, Lula prefere o gozo dos fanfarrões.
O PT não mudou as estruturas do Estado brasileiro que são multiplicadoras de injustiças. Ao contrário: ele as adaptou, à medida que as absorveu, à pauta partidária. Não por acaso, os ditos programas sociais, que são uma versão degenerada das conhecidas políticas compensatórias, ficaram submetidas à injunções do PT. Não custa lembrar que os companheiros resistiram às tentativas de institucionalizar o Bolsa Família, por exemplo. Eles querem o programa como instrumento de chantagem dos pobres.
O reino do “Crucificado” — o Cristo, não o Tiradentes — não era deste mundo. O de Lula, de seus Lulinhas folgazões e do PT é, sim. E é por isso que demonstram tamanho desespero. E é por isso que, longe de se entregar a qualquer rito sacrificial, eles prometem é se vingar de seus adversários. Eles não querem que o futuro lhes dê razão, como os profetas. Querem que o presente os recompense, como os chantagistas.
Lula é o maior farsante que a história brasileira produziu. E só alcançou essa condição porque foi também o mais convincente.
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