Saiba quais são as oportunidades e os desafios para o agro em 2022

Mudança na conjuntura econômica pode levar ao estreitamento das margens e descapitalização do agropecuarista no Brasil

  • Por Kellen Severo
  • 05/12/2021 10h00 - Atualizado em 06/12/2021 13h17
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Dirceu Portugal/Fotoarena/Estadão Conteúdo - 27/11/2021 Trator com um tambor acoplado atrás aplica fungicida em lavoura de soja A safra futura de soja 2022/2023 tende a ser a mais cara da história

A conjuntura econômica que se desenha para o novo ano deve levar a um aperto da margem de lucro no setor agropecuário a partir de 2022. Essa é a conclusão de especialistas ouvidos pelo Painel Hora H do Agro deste domingo, 5. O nervosismo tomou conta dos mercados globais ao longo das últimas semanas, após o surgimento da nova variante do coronavírus, denominada Ômicron. Ao redor do mundo, governos buscam entender a intensidade da nova cepa do vírus. Enquanto isso, agentes financeiros reagem incertos em relação aos efeitos na economia global, que já trazia sinais de recuperação.

Para o economista sênior do Itaú BBA, Pedro Renault, há três pontos da Ômicron que precisam ser analisados neste momento: transmissibilidade, severidade e capacidade de resistência a vacinas. “Há indícios, principalmente no sul da África, onde tudo começou, de que ela leva com menos frequência a casos graves”, destacou. Se esse ponto vier a ser ratificado por órgãos de saúde internacionais, o economista acredita que estaremos caminhando de uma pandemia, onde o vírus alcança o mundo todo, para uma endemia, quando a doença é recorrente na região, mas não há um aumento significativo no número de casos. Assim, os efeitos na economia são também de “muito menos disrupção do que a gente viu lá atrás [no início da pandemia]”. “Não parece ser sinal de fim do mundo, pelo menos, por enquanto”, disse.

Mercado agrícola

De imediato, o mercado agrícola também reagiu exasperado aos primeiros sinais de incerteza em relação à variante Ômicron no mundo. “O que a gente viu foi uma derrocada das commodities de uma forma generalizada, desde o petróleo até soja, milho, café, açúcar, algodão”, destacou Carlo Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio. No entanto, para o analista de mercado, a preocupação neste momento é com qualquer lockdown que possa vir a ser estabelecido em países da Europa, Ásia ou outro continente. A medida levaria ao fechamento de portos e à limitação de circulação, gerando um prolongamento e agravando a situação das indústrias de fertilizantes. “Esse processo poderá gerar compra de ações para os próximos plantios aqui no Brasil, ordem de milho segunda safra, café, cana e depois, mais adiante, safra de grãos 22/23”, pontuou.

Dólar

Até a última semana de novembro, o boletim Focus do Banco Central projetava a taxa de câmbio do dólar a R$ 5,50 para o fim deste ano e também em 2022, estimativa acompanhada pelo Itaú BBA. Porém, Renault ressalta que falar desse patamar seria equivalente a acreditar em um cenário de estabilidade, diferentemente do ambiente global menos favorável que se enxerga no curto prazo. Espera-se que a volatilidade da moeda norte-americana frente ao real esteja atrelada, no próximo ano, às eleições presidenciais no Brasil e à alta de juros nos Estados Unidos — item que já foi sinalizado pelo Federal Reserve, Banco Central norte-americano. “O juro sai de zero para patamares, como nos caso dos EUA, de 0,75% ao final de 2022. Isso vai causando uma pressão global que é o quê? Dólar para cima”, afirmou o economista sênior do Itaú BBA. Outro ponto de monitoramento são os juros subindo por aqui também, já encerrando 2020 “perto de 10%”. “Nós projetamos, em março, juro em 11,75%. Isso significa um fator que compensa boa parte dessa pressão global”, completou.

Custo de produção e margem de lucro 

O agricultor brasileiro passa por um cenário de estreitamento das margens de lucro. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a relação de troca do produtor de soja, por exemplo, está em um dos piores patamares dos últimos anos. “A gente está vendo um aumento de custo na ordem de 200%, 300%, 400% a depender do insumo. É um momento preocupante”, disse Maciel Silva, coordenador de produção agrícola da CNA. Segundo o especialista, a safra futura 2022/2023 tende a ser a mais cara da história — e de difícil gestão. O aperto na rentabilidade de quem produz alimento já tende a ser visto na segunda safra de milho desta temporada “para aqueles que não compraram insumos”. Dados da Cogo Inteligência em agronegócio, mostram que o produtor se depara com a pior relação de troca dos últimos 12 anos. “É o nível mais alto de custo de insumos desde 2008”, pontuou o sócio-diretor da consultoria. Diante desse quadro, o desafio do agricultor “não vai ser preço, vai ser olhar o seu poder de compra”.

Logística

No âmbito da logística, há fatores externos e internos para o setor acompanhar. O quadro de falta de contêineres para transportar os produtos de exportação e a alta do frete marítimo são pontos que exigem monitoramento. Além disso, as ações preventivas adotadas por países após o surgimento da variante Ômicron também são acompanhadas. Até o momento, nenhum porto foi fechado, mas quaisquer restrições impostas devem ser acompanhadas. Para o diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz, as condições atuais não devem ser um problema no momento. “O Brasil tem um conhecimento já adquirido dessa questão da pandemia. Acho que nós já aprendemos um pouco da lição de como trabalhar nesses casos”, disse.

Internamente, há a expectativa de aprovação do projeto de lei conhecido como BR do Mar, que trata do transporte de cabotagem, ou seja, entre portos da costa do país. A medida visa reduzir o chamado custo Brasil e avançar com a logística interna. “Sem dúvida alguma, a BR do Mar vai vir a contribuir para que nós possamos, por exemplo, levar arroz do Rio Grande do Sul para o Nordeste a um custo menor”, explicou Vaz. Outro tema em discussão no país são as autorizações ferroviárias para o aumento da concorrência interna e potencial barateamento do frete. Atualmente, a maior parte da safra brasileira (65%) é transportada por rodovias. Como há carência de pavimentação em diversos trechos das principais rodovias, há 60 anos o Brasil atua no sistema de concessões, onde o Estado transfere para a iniciativa privada a autorização para operar esses trechos.

Agora, o que tem se pretendido é um sistema semelhante, mas para as ferrovias. Para isso, busca-se a aprovação do PL 3754, do Senado Federal, que estabelece a Lei das Ferrovias. A medida abrirá a possibilidade de empresários adquirirem autorização, individual ou em grupo, para cuidar de um determinado trecho ferroviário. “Nós entendemos que com isso vai haver uma maior disponibilidade de ferrovias, do transporte ferroviário e com isso, vamos ter uma redução de custos, porque haverá concorrência”. O projeto aguarda indicação de relator no Senado para avançar. No Hora H do Agro, os especialistas também analisaram a demanda da China diante dos sinais de desaceleração da economia do país, o ciclo de preço das commodities e indicaram as oportunidades do setor no novo ano.

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