Alta do dólar reduz poder de compra das famílias mais pobres

Cerca de 30% dos brasileiros sobrevivem mensalmente com menos da metade de um salário mínimo

  • Por Jovem Pan
  • 15/03/2022 12h35
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Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo - 11/01/2022 Uma mulher e seu filho pré-adolescente circulam de máscara pelo corredor dos tubérculos em supermercado Encher o tanque de combustível ou carrinho de compras no supermercado são ações impactadas diretamente pela desvalorização do real frente à moeda norte-americana

A alta do dólar favorece investidores e prejudica famílias no Brasil. Quase tudo fica mais caro: encher o tanque de combustível, o carrinho de compras no supermercado, viajar para o exterior. Esses são apenas alguns dos itens impactados diretamente pela desvalorização do real frente à moeda norte-americana, especialmente por conta da guerra no Leste Europeu. Com a renda média da maioria dos brasileiros abaixo de um salário mínimo, hoje estipulado em R$ 1.212, a preocupação aumenta. A camada mais pobre da população sofre ainda mais com a volatilidade da taxa cambial porque os preços dos alimentos, como a carne, dos remédios e até dos artigos de higiene pessoal dispararam.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário adequado para manutenção de uma família no Brasil, considerando dois adultos e duas crianças, deveria ser de R$ 5.657, porém cerca de 30% dos brasileiros sobrevivem mensalmente com menos da metade de um salário mínimo; 70% conseguem somar dois salários mínimos; e 90% têm renda de até R$ 3.500. Ou seja, a maior parte das famílias passa longe do montante e não consegue acessa nem os itens básicos.

O analista financeiro Caio Mastrodomenico indica que a corda acaba estourando para o lado dos mais vulneráveis. “Qualquer reajuste, por menor que for, ele vai influenciar no preço de toda a cadeia. E vai chegar, sem dúvida, na gôndola mais cara. Os mais pobres acabam sempre pagando mais, porque eles são os que mais consomem. O menos favorecido no Brasil acaba colocando toda a renda dele, quase 100% dela no consumo. E é justamente onde está o maior tributo”, diz.

Apesar da crise entre Rússia e Ucrânia, a variação cambial tem demonstrado uma certa estabilidade nos últimos dias. Entretanto, os olhos do mercado internacional permanecem voltados ao que acontece na área do conflito. O especialista em câmbio Mauriciano Cavalcante prevê equilíbrio na trajetória do dólar. Segundo ele, esse cenário somente sofrerá mudança se houver um novo solavanco e a guerra for agravada. “Nós temos aí uma oscilação entre cinco e dez, mas sempre naquela média de 5,02, 5,05 e isso deverá se sustentar se por um acaso a gente não tiver uma coisa mais séria em relação à guerra, como os Estados Unidos e os e os países da Otan entrarem realmente nessa guerra com mais fervor”, argumenta. O dólar iniciou esta semana sob reflexos de um novo lockdown na cidade chinesa de Schenzen, após um surto de Covid-19 e de uma possível alta dos juros nos Estados Unidos.

*Com informações do repórter Daniel Lian 

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