‘Amarras estão fragilizando Lava Jato e MP como um todo’, diz nova coordenadora da operação em SP
Ex-assessora de Rodrigo Janot e procuradora da República, Janice Ascari, é a nova coordenadora da Força-Tarefa da Lava Jato em São Paulo. Em entrevista ao Jornal da Manhã desta sexta-feira (11), Ascari comentou o momento da operação que, segundo ela, está “fragilizada” devido à aprovação de uma série de medidas que enfraquecem o Ministério Público (MP) como um todo.
“O momento é bastante preocupante não só para a Força-Tarefa da Lava Jato, como para todo o Ministério Público brasileiro que atua na área criminal, civil e de improbidade administrativa. Esses projetos de lei que tramitam no Congresso atualmente, como o da lei de abuso de autoridade, o pacote anticrime e centenas de outros dificultam, de alguma forma, a investigação, e barram o trabalho do MP e de órgãos de investigações. Afeta o Ministério Público como um todo”, explicou.
Ela ressaltou que é importante lembrar que a Lava Jato é apenas “uma das facetas do Ministério Público”, e que “dezenas de outras investigações” estão sendo prejudicadas. “Os órgãos públicos, Assembleias Legislativas, grupos que lidam com crime organizado, tráfico de drogas, tudo isso é trabalho do MP na área criminal, mas tudo fica fragilizado com essas amarras que querem impor aos órgão de investigação”, continuou, acrescentando que atitudes simples, como uma prisão preventiva, agora poderão ser interpretadas como abuso de autoridade.
Ascari ponderou que essas posições dos parlamentares, de aprovarem projetos que cerceiam as condutas investigativas, não necessariamente corroboram com a vontade da sociedade. “A sociedade quer corrupção zero, que as pessoas respondam por isso – seja com prisão, que não é a única punição para esse tipo de crime, seja com multas financeiras ou outro tipo de ajuste. Mas o que a população quer, eu acredito, é que os responsáveis sejam punidos por seus crimes”, finalizou.
“Supresa” com Janot
Questionada sobre sua reação quando viu a declaração de Rodrigo Janot, que revelou ter elaborado um plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e depois se suicidar, Ascari disse que ficou “surpresa”.
“Quando eu fui trabalhar com o procurador Janot eu já tinha 21 anos de carreira, já o conhecia. Superficialmente, ele me convidou para o cargo por motivos técnicos. Trabalhei com ele por quatro anos e nunca notei nada, para mim foi uma surpresa esse tipo de declaração”, disse.
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