Brasil não ganha nada tomando lado na disputa entre EUA e China, diz economista

Ricardo Amorim analisa as mudanças que a vitória de Joe Biden pode trazer para o Brasil tanto na relação com a China como no cuidado ao meio ambiente

  • Por Jovem Pan
  • 09/11/2020 12h20
USA TODAY NETWORK/VIA REUTERS Donald Trump apertando a mão de Jair Bolsonaro Assim como seu aliado Donald Trump, Bolsonaro também fez muitos ataques à China

Com a eleição do democrata Joe Biden para presidente dos Estados Unidos, muitas análises falam sobre como deve ficar a situação do Brasil em relação ao país. Jair Bolsonaro é declaradamente aliado de Donald Trump, atual presidente norte-americano que não conseguiu se reeleger. Assim como Trump, Bolsonaro também adotou uma postura de ataques à China, principalmente com relação à pandemia do novo coronavírus. Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, o economista Ricardo Amorim analisa os impactos da relação entre os Estados Unidos e a China e também como tudo isso pode afetar o Brasil.

“Nós temos que fazer negócio com a China e com os Estados Unidos. E nos mais diferentes campos, o que a gente precisa buscar sempre é o interesse brasileiro. Por exemplo, duas decisões importantes que estão para serem tomadas, uma relativa à vacina [da Covid-19] e a outra relativa ao 5G. Ambas deveriam ser pautas por qual é a melhor tecnologia, independentemente de origem. Não se deve valorizar ou desvalorizar origem nenhuma. O que a gente precisa buscar é o melhor produto. Aliás, isso não é uma decisão política, é uma decisão técnica”, afirma Amorim.

Com Biden no poder, o economista acredita que haverá uma grande mudança na relação norte-americana com o país asiático. “Vai ter uma mudança importante na relação com a China. Não que os Estados Unidos vão ser menos firmes, pelo contrário. Donald Trump tinha um discurso muito duro em relação à China mas, na prática, não conseguiu grandes conquistas ao longo do seu mandato. A razão disso é simples, ele alienou aliados históricos americanos ao longo do mandato. Ele brigou com Canadá, Reino Unido, Alemanha, Japão, com vários aliados importantes. Ao fazer isso, ele indiretamente acabou incentivando esses aliados a se aproximarem dos chineses. A consequência foi que a posição americana ficou mais fragilizada para negociar com a China do que se houvesse um bloco ocidental somado com Japão e Coreia do sul unidos se opondo aos chineses.” Amorim ainda aposta num discurso mais conciliador de Biden com relação ao país asiático.

Sobre a questão ambiental, o economista vê que as declarações de Biden sobre a Amazônia não eram por preocupação com o Brasil, mas sim voltada ao processo eleitoral nos Estados Unidos. De qualquer forma, Amorim defende que o Brasil mude sua postura independente de haver pressão de Joe Biden ou não, porque afeta a economia nacional. “Investidores no mundo inteiro estão cada vez mais dando atenção à questão ambiental porque os consumidores dessas empresas estão se importando mais com isso. O governo atual passou a imagem de que o meio ambiente não é importante para nós. Isso ta sendo usado por entidades privadas que estão reduzindo o investimento aqui. Como eu acho que precisaremos mudar a postura com relação ao meio ambiente de qualquer jeito, seria mais inteligente fazer não por pressão do Biden, mas por iniciativa própria.”

Como uma maneira de resolver esses problemas, o economista acredita que o melhor jeito é demitindo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. “Em particular, há dois ministros que nesse momento dificultaria as relações com os Estados Unidos. São os ministros do Meio Ambiente e o das Relações Exteriores. A forma mais simples do Bolsonaro resolver essa questão é trocando os ministros, Em vez dele se colocar como quem tá mudando a política dele, ele muda os ministros, e essa é a forma mais tranquila de fazer isso.”

Ricardo Amorim vê, ainda, que a questão ambiental é crucial para que o Brasil melhore a relação com outras nações com as quais teve problemas. “O governo brasileiro atual se indispôs com lideranças europeias, como Angela Merkel, Macron, também se indispôs com lideranças chinesas recentemente ao falar que não queremos a vacina da China. E em relação aos EUA, em vez de se colocar como aliado americano, se colocou como aliado de Trump. Com o republicano perdendo a eleição, a gente acabou, basicamente, brigado com os 3 grandes blocos internacionais, não faz o menor sentido. O Brasil precisa se reposicionar e melhorar a relação com eles, e a questão ambiental é o caminho tanto com relação à Europa e possibilitar que o acordo entre Mercosul e União Europeia volte a avançar, que ele travou e isso poderia ser um ganho gigantesco, como com relação aos EUA. E sobre a China, especificamente, deixar claro que a gente não vai favorecê-la e nem vai jogar contra ela. Não tem por que dar privilégios e não tem porque excluí-la também”, finaliza.

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