Comida de São João está mais cara por causa da alta inflação, mas demanda continua grande
Centro de Tradições Nordestinas recebeu mais de 30 mil pessoas somente no primeiro final de semana da festividade
Foram dois anos sem pular fogueira, dançar quadrilha ou comer milho cozido. E, em como todos os setores, os vendedores de comidas típicas se viraram como puderam até a reabertura do comércio após as restrições por causa da pandemia da Covid-19. A pipoca está mais cara. Isso porque o milho foi o produto da festa junina que mais teve alta neste ano, com o crescimento de quase 42% de acordo com o estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). O Fubá, que é um ingrediente de vários pratos típicos, também não está muito atrás e teve um crescimento de 41,5%. Apesar disso, a presidente do Centro de Tradições Nordestinas (CTN) conta que a procura pela festividade está muito grande.
Foi difícil adaptar a pipoca ao delivery. Nos primeiros anos de pandemia, o Matheus conseguiu igualar as contas vendendo petisco para que esperavam no drive thru do Centro de Tradições Nordestinas, onde ele tem ponto. O movimento tem melhorado desde janeiro, mas é agora, com as festas de São João, que o Matheus espera resultados melhores. “Quando a vacinação começou a avançar, a flexibilização também começou junto com ela e foi quando a gente conseguiu ver aquela luz no fim do túnel. Depois de tanto tempo a gente conseguiu ver as coisas melhorando. O São João se torna especial para a gente por conta de que a pipoca deixa de ser algo comum, e ela é uma coisa que é do cardápio do São João”, diz Matheus.
O Matheus usa dois tipos de milho. O comum, para pipoca salgada, e um importado, para a doce. Além de ter enfrentado escassez dos produtos, ele está pagando o dobro do preço por cada um. “A cada cinco quilos do milho comum, eu estou pagando R$ 30. E do milho especial eu pago R$ 65. Antes da pandemia,o milho especial era uns R$ 30, hoje que é o milho comum, e o milho comum chegava a R$ 15 no máximo. A gente usa, por exemplo, o açúcar, que a gente usa o cristal, também teve alta, o óleo também, e claro, uma coisa que fica em segundo lugar, além do milho, o gás. Que é basicamente tudo que a gente está trabalhando hoje, desde a embalagem, todos tiveram uma alta. Trabalhar com uma estratégia para não afugentar [o cliente], porque a pipoca, por mais que a gente tente mudar, tente fazer umas coisas novas, ela acaba sendo uma coisa comum. Então a pessoa acaba ficando assustada com um valor muito alto”, diz o vendedor. Apesar da alta, o Matheus tem experimentado uma boa recepção por parte dos consumidores. “É bom que o público vem ajudando bastante, vem entendendo que as coisas aumentaram como um todo. E a gente está tentando, aos poucos, não deixar isso assustar ninguém, mas é difícil”, completa
A presidente do Centro de Tradições Nordestinas, Cristiane Abreu se surpreendeu com o público que procurou o local para comemorar as festas de junho. “Sentindo que o público está com uma sede muito grande de se divertir, de interagir. Isso está sendo muito bom. A gente também estava com essa ansiedade para receber todo mundo, para fazer essa decoração linda, que o pessoal adora, para entrar com a Arena dos Estados, com a Vila dos Sabores Juninos, para encher o pessoal de forró, de quadrilha, quadrilha do CTN, a gente estava muito ansioso para tudo isso.Eu acho que esse ano vai ser atípico. Antes da pandemia a gente trouxe nos 18 dias de festa 187 mil pessoas. Então, já é um evento de sucesso. Mas, este ano, a gente está sentindo que juntou com isso, a demanda reprimida, a galera quer sair. A gente quer fazer festa, então juntou aí, deu uma equação boa”, diz. Somente no primeiro fim de semana do chamado São João de Nós Tudinho, o CTN recebeu 30 mil visitantes. A festa engloba as tradições de diversas partes do país, desde a comida nordestina de São João até o vinho quente das quermesses todas as sextas, sábados e domingos até o final de julho.
O economista Gilberto Braga explica o motivo da alta dos alimentos: “A inflação está muito elevada, o consumo de produtos alimentares cresceu durante a pandemia e o conflito entre a Rússia e Ucrânia trouxe também uma maior demanda por esses produtos com uma oferta menor. O milho e o açúcar foram muito afetados pelas condições climáticas. Então, nós tivemos períodos de chuva muito forte em alguns locais e em outros locais ao contrário, tivemos seca. Tivemos problemas com escoamento da produção, ou seja, problema com estradas, e temos também a questão dos combustíveis, que aumenta o custo do frete”.
*Com informações da repórter Nanny Cox
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