Debate com ministro da Justiça sobre mortes de crianças Yanomami termina em confusão na Câmara
Indígenas brincavam em rio dentro da comunidade quando foram sugados por maquinário de garimpo ilegal, segundo investigações da Polícia Federal
O ministro da Justiça Anderson Torres foi convidado pelos deputados federais a prestar esclarecimentos sobre o descaso com a comunidade Yanomami, em Roraima, e as denúncias de negligência por parte da Fundação Nacional do Índio (Funai). O ministro foi questionado pela deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RO), primeira indígena eleita para a Câmara, sobre a morte de duas crianças, uma de cinco e outra de sete anos, sugadas por maquinários de garimpos ilegais dentro da comunidade no Dia das Crianças. “12 de outubro. Não obstante à própria tragédia, que já significa perda de membros do povo indígena Yanomami, o caso ocorreu, segundo diversas denúncias e informes, reiteradas vezes, no mesmo contexto, em razão da atuação garimpeira ilegal”, disse. O ministro Anderson Torres afirmou que os investimentos têm sido feitos e justificou dizendo que a região tem sido invadida por venezuelanos. “As operações têm sido feitas, elas precisam realmente aumentar. Nós estamos vivendo um problema gravíssimo em Roraima e é óbvio que esse problema atinge os indígenas”, pontuou.
Houve bate-boca quando o presidente da Funai, Marcelo Xavier, também convocado, começou a ler reportagens aos parlamentares. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) entendeu que Xavier estava ‘enrolando’ para não responder às perguntas. O presidente se defendeu dizendo que a comunidade Yanomami está sendo prejudicada por causa dos imigrantes venezuelanos. “Muitos que estavam trabalhando na Venezuela migraram para o Brasil em busca de melhores condições de vida e foram para o garimpo. Inclusive, há uma reportagem aqui que o próprio Maduro agora, recentemente, permitiu a exploração do ouro no sul da Venezuela, prejudicando, inclusive, os índios da região Yanomami”, disse Xavier.
O ministro da Justiça voltou a dizer que o caso não será esquecido. Segundo as investigações da Polícia Federal (PF), as duas crianças estavam brincando em um rio dentro da comunidade indígena quando foram sugadas pelo maquinário de um garimpo ilegal. As investigações continuam, mas até o momento ninguém foi preso. A sessão foi encerrada na Câmara dos Deputados após três horas de muito bate-boca entre os parlamentares. Além das mortes, os deputados querem uma apuração sobre a falta de recursos destinados à comunidade Yanomami, que deveriam ser feitos pela Funai. Os indígenas têm sofrido com a falta de água potável, falta de equipamentos médicos, saneamento básico, além de conviver com surto de várias doenças, entre elas, a principal, a malária.
*Com informações do repórter Maicon Mendes
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