Delegado diz que adolescente que atacou escola em SP não demonstrou arrependimento
Garoto de 13 anos prestou depoimento duas vezes à Polícia Civil, que por sua vez agora pericia objetos encontrados na casa do agressor e pretende quebrar o sigilo telemático e telefônico dele
O delegado Marcos Vinícius Reis, à frente das investigações do caso do adolescente que realizou um atentato à faca na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona sul de São Paulo, relatou à imprensa que, em nenhum momento, o garoto de 13 anos demonstrou arrependimento. “Falou de maneira muito fria, não demonstrou arrependimento, ele falou sobre toda a dinâmica do crime, algo que até para nós, policiais experientes, com décadas de carreira, foi uma cena muito impactante. E para um adolescente de 13 anos não trazer um remorso, não manifestar arrependimento, é algo impactante”, afirmou Reis. Em depoimento, o adolescente alegou que o que motivou o ataque foi o fato dele ser vítima de bullying, não só na escola específica onde fez o ataque como também em todas as outras onde já havia estudado: “A alegação do próprio adolescente infrator é de bullying. De ter sido alvo de chacotas durante o período escolar. Falavam sobre o cabelo dele, aquela coisa entre alunos que, infelizmente, a gente sabe que acontece, não só em escola pública, mas também em escola privada”, completa o delegado.
O adolescente de 13 anos já foi ouvido duas vezes pela Polícia Civil depois do ataque. Nesta terça-feira, 28, ele prestou depoimento na presença de representantes do Ministério Público no centro de São Paulo. Marcos Vinícius Reis ainda contou que buscas foram realizadas na casa do garoto, e que os agentes encontraram máscaras, uma arma de softball e bilhetes de recados. Computador, celular e HD externo do menino também serão periciados. “Nós peticionamos ao Poder Judiciário a quebra do sigilo telemático e telefônico do aparelho celular do adolescente, bem como o HD externo que nós coletamos ontem na residência dele. E vamos examinar até o videogame dele para saber se a gente consegue confirmar a questão do planejamento. Uma questão que está bem clara, mas que queremos corroborar materialmente. A intenção já era deliberada e estava manifestada nos bilhetes, nos cadernos”.
Ao todo, mais de 35 pessoas, entre professores e alunos, prestaram depoimento à Polícia Civil. Uma das depoentes foi a professora de história Rita Reis, que foi ferida no braço e nas costas por facadas que levou. “Eu vi aquela movimentação toda. E ele veio na minha direção já com a faca na mão. Tranquilo, tranquilo. Nada, nada. Ele só veio. Na hora, você pensa que é uma brincadeira, não sei, você pensa qualquer coisa, menos que vai ser uma agressão. Achei que ia morrer, porque essas coisas, quando acontecem, sempre tem morte. Eu achei que ali era o meu momento”, relatou. A professora também falou que o adolescente – que assassinou sua colega, a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, e feriu outras três pessoas, além dela mesma – dificilmente se expressava em sala de aula: “Ele já foi nosso aluno em 2021, saiu e voltou agora. Havia voltado há 15 dias. Como aluno, era muito quieto, reservado, com fone de ouvido o tempo todo nos ouvidos. Você falava com ele e ele respondia bem alheio a tudo. E briguento”, conta. Também nesta terça, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo emitiu uma nota informando que, em dois dias, a polícia registrou sete possíveis ataques a escolas por causa da evidência do caso na Escola Estadual Thomazia Montoro.
*Com informações do repórter David de Tarso
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