Diplomata critica tentativas de ‘ativismo’ e ‘protagonismo’ de Lula no exterior: ‘Declarações controvertidas’

Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, Rubens Barbosa analisou o encontro entre o presidente Lula e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nesta segunda-feira, 12

  • Por Jovem Pan
  • 12/06/2023 09h56
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Reprodução/Jovem Pan News rubens-barbosa-diplomata-entrevista-reproducao-jovem-pan-news Diplomata analisou o encontro de Lula com a líder europeia em entrevista ao Jornal da Manhã

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, desembarca no Brasil nesta segunda-feira, 12, para reunião com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva(PT). Segundo o Palácio do Planalto, a bilateral “se enquadra no conceito de retomada das relações do Brasil com a União Europeia”. Para falar sobre o encontro, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o diplomata brasileiro, Rubens Barbosa. Para o ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, apesar da atual política externa do governo ir bem, ela apresenta problemas que se manifestam nas posições à respeito da guerra na Ucrânia: “Acontece que, dentro dessa política de que o Brasil vai voltar para o cenário internacional, o presidente Lula resolveu querer ter influência no encaminhamento de uma solução de paz para a guerra da Ucrânia, o que eu acho que está acima das possibilidades do Brasil. E nesse contexto, ele fez algumas declarações que foram muito controvertidas e foram criticadas, não só por presidentes, mas também por governos da Europa e o governo americano”.

“Nós estamos, nesse momento, em uma situação que as prioridades da política externa deveriam ser reforçadas, sem o ativismo diplomático que essa ação em relação à guerra da Ucrânia implica. Há muitos problemas aqui no Brasil a serem discutidos, superados, e se a gente for olhar a agenda do presidente no segundo semestre, é muito preocupante, porque ele tem quatro ou cinco viagens no meio da discussão do marco regulatório, no meio da discussão da reforma tributária e no meio da discussão que ele está fazendo internamente para recompor as relações com o Congresso e com o agro. Então, a política externa passou a ter uma importância muito grande, mas começa a ter ruídos em relação à agenda interna por causa do ativismo e do protagonismo que o presidente Lula quer ter no exterior”, analisou.

Alguns assuntos principais estão na pauta da reunião de Lula com a líder da União Europeia (UE). Entre eles, a retomada das discussões sobre um possível acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, travado há mais de 20 anos. Juntamente com esta questão comercial, também existe um foco importante da visita para debater o tópico do meio ambiente. Para Barbosa, é importante que o Brasil negocie de maneira a favorecer suas exportações: “União Europeia está muito preocupada com essa questão ambiental porque criaram o Green Deal, política ambiental que já vem a alguns anos. Estão tomando medidas restritivas muito importantes. A presidente do conselho europeu vem para o Brasil com uma agenda, mas acho que o Brasil tem que colocar na mesa o outro lado. As restrições que a União Europeia coloca para produtos agrícolas não são compatíveis com as decisões da OMC.

“O governo brasileiro mudou de posição, tem uma política em relação à Amazônia e esse é um ponto importante da agenda porque implica, não só a parte ambiental, mas também a parte comercial, pelas restrições que não são compatíveis com a OMC e a UE coloca contra produtos, inclusive do Brasil, nessa área agrícola”, argumentou. Para o diplomata, o acordo Mercosul-União Europeia deve ser feito, mas não em breve: “A presidente do Conselho Europeu está vindo ao Brasil porque vai haver agora em julho uma reunião entre a União Europeia e os países da América Latina, da CELAC, da Comunidade Econômica da América Latina. E a União Europeia tem dito, através de diversos porta-vozes, que eles querem que esse acordo seja assinado nessa ocasião. Vamos ver se é possível (…) Eu acho que vai ser muito difícil assinar agora em julho. Afinal, nós estamos já em junho. É muito difícil a curto prazo. Mas eu acho que até o fim do ano os interesses são muito grandes, tanto do Brasil, quanto a União Europeia, e esses problemas pendentes eu acho que poderão ser superados”.

O ex-embaixador avaliou como positivos os objetivos iniciais da política externa do governo Lula e fez mais ponderações sobre tópicos que podem ser debatidos no encontro com a líder da UE: O presidente Lula, quando foi eleito, anunciou três grandes mudanças na política externa em relação ao governo anterior, que fez uma política externa muito negativa para o Brasil. Primeiro, é que o Brasil estava de volta ao cenário internacional. Segundo, que o meio ambiente e a mudança de clima estavam no centro da política externa. E terceiro, a prioridade para a América do Sul, América Latina. Eu acho que essas três prioridades são importantes e estão de acordo com o interesse brasileiro”.

“Guerra na Ucrânia também vai entrar nas conversas. Tanto o presidente Lula, quanto a presidente do Conselho Europeu, têm essa pauta. Vai entrar na agenda também. Tem uma agenda bem diversificada, tem a guerra na Ucrânia e questões comerciais, o acordo Mercosul-União Europeia é muito importante para o Brasil e para as empresas da UE. Nós estamos esperando que os entendimentos a respeito de um protocolo adicional, que foi apresentado pela UE, seja respondido pelo Brasil e que a UE aceite as ponderações do Brasil (…) Nesse contexto ambiental, o Brasil também poderia suscitar o problema da Guiana Francesa. A França faz limite com o Brasil, a Europa faz limite com o Brasil, por causa da Guiana Francesa. E as notícias que a gente têm são de grande destruição da Floresta Amazônica na Guiana Francesa. O Brasil também deveria colocar esse item na pauta das conversas”, declarou. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.

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