Ernesto Araújo perdeu prestígio interno e situação é insustentável, avalia diplomata
Rubens Ricupero analisa os desdobramentos da possível substituição do ministro para a política externa brasileira e para aquisição de vacinas contra a Covid-19
O diplomata e ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Ricupero, avalia que a manutenção de Ernesto Araújo à frente do Ministério da Relações Exteriores é insustentável. Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, nesta segunda-feira, 29, o ex-ministro da Fazenda falou sobre os possíveis desdobramentos da troca na pasta para o cenário internacional e, até mesmo, para a aquisição de vacinas contra a Covid-19. “A partir da sessão do Senado, em que ele foi demolido por um número enorme de senadores, sem defesa, ele perdeu condições de continuar no cargo porque perdeu prestígio. Quando se perde prestígio internamente, ele não terá credibilidade para ter interferência com outros países. A situação era incorrigível e se agravou com esses episódios dos tuites e coisas do tipo. Quanto mais prolongar a indefinição será pior para ele, para o governo e para as relações internacionais”, afirmou, mencionando as mensagens publicadas por Ernesto Araújo no final de semana, no Twitter, afirmando que a pressão pela sua substituição acontece pela tecnologia 5G.
Embora considere a substituição do ministro necessária, Rubens Ricupero pontuou que a troca de Araújo não deve facilitar a aquisição de vacinas pelo Brasil. Segundo o diplomata, erros do governo Bolsonaro, especialmente do Ministério da Saúde, que recusou a compra antecipada de 70 milhões de doses do imunizante da Pfizer no ano passado, são os responsáveis pela dificuldade para obtenção dos compostos em larga escala. Para ele, considerando que “não há mais vacinas em qualquer lugar”, situação que não deve mudar tão cedo. “O ministro tem graves responsabilidades, cometeu erros muito sérios. Fui um crítico desde o início por causa discurso inaugural desastroso, mas não pode ser responsabilizado por tudo, vejo hiprosicia em fazer quase um linchamento público [de Ernesto Araújo”, disse, ressaltando que o ministro foi um “executor entusiasta” do posicionamento externo adotado, mas não o único responsável. “Há elemento de hipocrisia, de covardia em concentrar o fogo em um pobre diabo como Ernesto Araújo. Pobre diabo porque ele não tem partido, movimento atrás dele. As pessoas que os fazem para tingir outro alvo.”
Para mudar a realidade da política externa brasileira, o ex-embaixador defendeu a importância de uma mudança de ministro e de posicionamento. “Se for para mudar de fato a política, que haja essa intenção. No caso do Ministério da Saúde tivemos várias mudanças, essa última, aparentemente, mudou um pouco, escolheu secretários competentes. Mas na maior parte das mudanças [no governo] não tivemos melhorias. O caso mais grave, a grande complexidade da política externa vem da área ambiental e na área ambiental não há sinal de mudança. Se for preciso mudar, mude o ministro e a política externa.”
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